Podemos nos equivocar sobre as impressões que temos de nós mesmos? É certo que é possível se iludir, mas as ilusões são na maior parte das vezes simbólicas, constructos complexos articulados a outros símbolos. As impressões costumam ser intuições, que embora inevitavelmente também se articulem ao universo simbólico, têm algo de cru e imediato; algo que, de tão direto, parece dispensar mediações...
Os iconoclastas, a vontade de seguir e a incapacidade de dizer
De onde vem a vontade de liderar? Alguém se pergunta honestamente sobre isso? Os líderes se perguntam? Uma resposta honesta pode ser o freio de mão de muitos impulsos. Everybody wants to rule the world, canta o Tears for fears. O desejo de liderar não é tão diferente do desejo de influenciar. Ele traz a marca do poder, desse poder que seduz porque alimenta egos sedentos pela confirmação de que...
A Ética da Autenticidade
Os franceses são muito formais, todo mundo sabe disso. Quando criança minha esposa foi viver em Paris e, embora tenha absorvido muita coisa dos franceses, não morre de amores pelos parisienses. Ela me conta como ainda se sente constrangida, sempre que precisa falar com franceses, a repetir o mantra que lhe foi inculcado: “Bonjour! Excusez-moi de vous déranger. S’il vous plaît...
Mudar de pele
Mudar é um processo doloroso, mas a única lei do mundo é a lei da mudança (esse oxímoro imprescindível). Toda mudança nos coloca na rota do abandono da heteronomia, da aquisição da autonomia (e da liberdade)
Autonomia: robôs, androides e ciborgues
Quanto de liberdade um robô pode ter? O cinema contemporâneo nunca deixou de responder a essa pergunta. Interstellar é uma das últimas ocasiões em que se deixa ver uma dessas respostas. No filme há uma relação interessante, embora periférica, entre um personagem (Cooper) e as Inteligências Artificiais que comandam os robôs TARS e CASE. Não sei se podemos separar assim, como duas identidades...
Filosofia e Ficção
Por uma razão simples a ficção não pode ter um papel central na ciência nem na filosofia científica que temos adotado: elas estão centradas na verdade e em sua eficácia causal. A ficção não tem nenhum compromisso essencial com a verdade. Alguém poderia até dizer que algumas das experiências ficcionais mais significativas fazem da verdade um mero fantoche no jogo complexo de articulações em nada...
Esquerda: Institucionalização e o prazer de apontar o dedo
Esse é o segundo post da série de críticas à esquerda. O primeiro post foi Espirais de poder e prazer. Ao longo do tempo a injustiça contra a qual luta a esquerda se sedimenta nas próprias estruturas institucionais da sociedade e dá lugar, por exemplo, ao que se conhece como racismo institucional. Mas a institucionalização da sociedade é um fenômeno recente, de tal sorte que é possível reconhecer...
Mate todos os Outros
O último episódio de Electric Dreams é sublime e tristemente apropriado à circunstância em que nos encontramos no Brasil. É uma boa mostra do quanto a arte pode nos ensinar. O episódio também tem lugar durante uma eleição, a eleição do presidente do MEXUSCAN, um país fictício que engloba o território dos três países do norte num só. O cenário é futurista, como em todos os episódios da série. Vera...
Westworld: identidade e fidelidade
Luciana Coelho publicou uma resenha sobre a segunda temporada de Westworld e me deu vontade de fazer o mesmo. Luciana é a única pessoa que eu leio, e em quem confio, escrevendo sobre séries (salvo a opinião dos amigos, claro). Não preciso dizer que tenham cuidado com os spoilers. Gostei muito da primeira temporada de Westworld, escrevi sobre algumas das ideias que me fascinaram...
Escrever pra quê? Escrever pra quem?
Não sei quem sou, que alma tenhoExposição “Toda arte es una forma de literatura”, no museu Reina Sofia. Quem fala sozinho arrisca parecer louco, o mesmo não se aplica à escrita. A escrita não precisa de uma audiência para justificar a sua expressão. Não podemos falar sozinhos, mas podemos escrever sozinhos. A escrita não está condenada ao diálogo, portanto o monólogo lhe é permitido...