Um escritor medíocre deve tomar cuidado para não substituir rapidamente uma expressão grosseira e incorreta por uma correta. Ao fazer isso ele mata a ideia original, que ainda era pelo menos uma muda viva. E agora está murcha e não vale mais nada. Ele agora pode muito bem jogá-la no lixo. Enquanto que a lamentável muda ainda tinha uma certa utilidade. Wittgenstein MS 138 (eu sou o culpado pela...
O que é um terminal?
Formas de interação com máquinas e seres computacionais O terminal é uma interface interativa, lógica e sintática, uma forma de interação entre um ser humano e um computador, uma máquina computacional. Há interfaces não interativas, que são meros displays. Uma definição genérica e abrangente, pois eu não sou dos que aposta na precisão, eu prefiro a vagueza — entender o vago é importante, porque...
Coordenação ou confluência? Parte 2: a permeabilidade entre o individual e o coletivo
Segundo texto de uma série (de três) sobre confluência, o primeiro texto discute principalmente a ideia de coordenação, a contraparte estritamente corporal disso que designo como confluência (espiritual). Descobri recentemente que Alexandra Elbakyan (criadora e mantedora do Sci-Hub) pesquisa interfaces cérebro-maquina (brain-machine interface). Pesquisadores de diferentes áreas, até mesmo de...
À sua imagem e semelhança, Ex Machina
Ex Machina é uma crítica a um só tempo feroz e sofisticada à masculinidade. Entre outras coisas, claro. Dois tipos de homens são apresentados no filme, dois exemplares, casos de regras muito gerais e vagas, mas que ainda assim perfazem claramente tipos distintos. O primeiro é um nerd solitário (Caleb) em cujo histórico de navegação podemos encontrar um padrão de mulher, um tipo de mulher...
Os iconoclastas, a vontade de seguir e a incapacidade de dizer
De onde vem a vontade de liderar? Alguém se pergunta honestamente sobre isso? Os líderes se perguntam? Uma resposta honesta pode ser o freio de mão de muitos impulsos. Everybody wants to rule the world, canta o Tears for fears. O desejo de liderar não é tão diferente do desejo de influenciar. Ele traz a marca do poder, desse poder que seduz porque alimenta egos sedentos pela confirmação de que...
Mudar de pele
Mudar é um processo doloroso, mas a única lei do mundo é a lei da mudança (esse oxímoro imprescindível). Toda mudança nos coloca na rota do abandono da heteronomia, da aquisição da autonomia (e da liberdade)
O algoritmo não se complexifica
Os algoritmos de Machine e Deep Learning aprendem a adaptar suas respostas e sempre criam respostas ajustadas aos seus novos desafios preditivos, mas não podem se complexificar. Ou seja, embora os modelos que os abrigam sejam em si mesmos complexos, eles estão fadados a permanecer no mesmo nível de complexidade. A complexificação do algoritmo — mesmo numa rede neuronal — depende de algum...
Autonomia: robôs, androides e ciborgues
Quanto de liberdade um robô pode ter? O cinema contemporâneo nunca deixou de responder a essa pergunta. Interstellar é uma das últimas ocasiões em que se deixa ver uma dessas respostas. No filme há uma relação interessante, embora periférica, entre um personagem (Cooper) e as Inteligências Artificiais que comandam os robôs TARS e CASE. Não sei se podemos separar assim, como duas identidades...
Somos e não somos dados
Nem toda contradição fracassa ao tentar dizer algo com sentido. Em realidade, há sentidos que só se mostram por meio de contradições. Um exemplo pra ilustrar o que eu quero dizer. Informações da minha própria máquina e suas configurações registradas nas estatísticas do blog Somos dados porque nos tornamos commodities negociadas num mercado subterrâneo desconhecido pela maior parte das pessoas. De...
Westworld: identidade e fidelidade
Luciana Coelho publicou uma resenha sobre a segunda temporada de Westworld e me deu vontade de fazer o mesmo. Luciana é a única pessoa que eu leio, e em quem confio, escrevendo sobre séries (salvo a opinião dos amigos, claro). Não preciso dizer que tenham cuidado com os spoilers. Gostei muito da primeira temporada de Westworld, escrevi sobre algumas das ideias que me fascinaram...