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Sociologia da fofoca

S

Meme do Melted, creio. É estarrecedora não só a falta de discussão sobre a fofoca como também a enorme condescendência com que o tema é tratado. Bem, talvez Georg Simmel tenha escrito sobre o assunto. O que é a fofoca senão um exercício do julgamento e da faculdade de julgar, um modo de contar histórias ou de inteirar-se sobre a vida alheia essencialmente marcado por um enfoque judicativo; um uso...

Melhoradores da filosofia

M

Foi no rabugento Schopenhauer que eu encontrei essa expressão tão divertida, “melhoradores da filosofia”. Parece surpreendente que haja humor e alegria num pessimista, mas não é. A filosofia não é uma ciência! Como explicar para alguém o significado dessa afirmação aparentemente simples, ou melhor, como fazê-la entender? Com a linguagem a gente pode explicar, mas nem sempre pode fazer...

À sua imagem e semelhança, Ex Machina

À

Ex Machina é uma crítica a um só tempo feroz e sofisticada à masculinidade. Entre outras coisas, claro. Dois tipos de homens são apresentados no filme, dois exemplares, casos de regras muito gerais e vagas, mas que ainda assim perfazem claramente tipos distintos. O primeiro é um nerd solitário (Caleb) em cujo histórico de navegação podemos encontrar um padrão de mulher, um tipo de mulher...

Erro e ignorância

E

A nossa relação com o erro e com a ignorância é tão fundamental que parece como se nada fosse tão decisivo quanto não errar, ou não se mostrar ignorante (bem, talvez eu fale só por mim!). O medo ao erro e à ignorância é paralisante, narcoléptico, embota a criatividade e a ação. A consciência da necessidade de ter uma relação saudável com a correção deve ser um dos significados do mote socrático...

Ser e parecer

S

Na sociedade capitalista a ideia de pluralidade, tão cara ao ideário liberal, raras vezes significa a pluralidade do ser, mas a do parecer. Assim se expressa a necessidade de individualização, de diferenciação estética, de singularização da aparência e do modo como se é percebido, mas essa diferença não se expressa com a mesma força nos valores e ideias que animam as ações. (Acho que não é...

História do possível e do impossível

H

Por volta de 1950, pouco antes de morrer, Wittgenstein escreveu sobre a ideia do homem ir à lua no que depois viria a ser o livro Da certeza. No contexto das suas anotações, essa ideia era apenas um modo de usar ficções e casos extremos para ilustrar aspectos conceituais e gramaticais que de outro modo não seriam notados. Meros vinte anos depois, se tornou real o que era então exemplo patente de...

Pular o processo: a força da prática

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Espírito e técnica Mestrinho disse, nessa entrevista a Nelson Faria, que não sabe ler partitura. Essa é uma ocasião mais que propícia para falar do primado da prática, do fato de que as regras têm uma posição secundária em relação à prática, apesar de vivermos na era dos computadores. Mestrinho disse que insistiram para ele estudar teoria musical, mas ele não queria “passar pelo...

Por que soa ingênuo falar de amor?

P

Essa imagem é uma comédia! Não há quem possa negar a capacidade mobilizadora do ódio, especialmente na triste circunstância em que nos encontramos, cercados por bolsonaristas. No entanto, mesmo entre soi-disant cristãos, falar de amor parece ingênuo, pois é como se estivéssemos convidando alguém a tomar parte do universo dos ursinhos carinhosos. A crítica da ingenuidade é parte fundamental das...

Colocando coisas diferentes lado a lado

C

Temos aqui duas coisas aparentemente diferentes. A primeira é Wittgenstein falando sobre a publicidade da linguagem, em diferentes momentos. Se um leão pudesse falar, não poderíamos compreendê-lo.LudWig wittgenstein, Investigações Filosóficas, II, § 327 Um quase-coroinha dizendo algo de aparência bombástica com a ingenuidade de uma criança: Deus, se tivesse olhado no fundo de nossas almas, não...

A bolha como oportunidade para entender a razão

A

A bolha é uma dessas ideias que circulam pela internet sem que ninguém tenha dúvida sobre o seu sentido, por isso mesmo pode ser uma ferramenta interessante. O que a caracteriza é o fato de demarcar muito claramente um lado de fora, isto é, um espaço interno de pertencimento (a bolha em si) e um espaço externo de exclusão. Nesse sentido, a bolha é algo bem diferente de um certo entendimento da...

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