Há textos que mudam a gente

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Helly na “Break Room”, série: Severance (Apple TV)

Há textos que mudam a vida da gente, ninguém é o mesmo depois de ter lido Dostoiévski, por exemplo. Dostoiévski apresenta situações que ou 1) você não conhece, às vezes nem sequer imagina, e aquilo te choca, ou 2) você as conhece e aquilo te redime. E eu gostaria de forçar as pessoas a lerem certos textos. Especialmente ensaios e aforismos.

Forçar literalmente, como no “Break room” de Severance (Apple TV), ou na famosa cena de Laranja Mecânica, obrigar (a ver && a ler), fazer ler compulsoriamente até que, quase que por osmose, o que estivesse dito ali pudesse ser entendido, sentido, integrado, imaginado. Um dos textos que eu obrigaria os outros a ler seria “Isto é água” (em PDF no Google Drive, pra quem quiser voluntariamente ler), de David Foster Wallace — até os átomos deste teclado sabem disso. Outro texto seria o de um amigo dele, Jonathan Franzen, “A dor não nos matará” (aqui também, em PDF no Google Drive). Um texto do livro Como ficar sozinho.

É um texto belíssimo, cheio de uma capacidade de ver as articulações entre o mundo eletrônico e nossa vida cotidiana, uma capacidade que todo mundo finge que tem — como fingiam aqueles que diziam ver a roupa nova do rei — mas que muito pouca gente tem de fato. O texto de Franzen trata de uma maneira bastante pessoal sobre o amor, suas dores e delícias, num mundo digital e globalizado, no qual parecemos estar conectados aos outros, mas cuja virtualização das conexões humanas mal disfarça a solidão e o distanciamento que correm por baixo da fachada simbólica da conectividade.

Quando ficamos trancados em nossos quartos, bufando, caçoando ou nos sentindo indiferentes, como fiz durante tantos anos, o mundo e seus problemas parecem desafios impossíveis. Mas quando saímos às ruas e temos relacionamentos reais com seres reais, ou mesmo animais reais, há o perigo bastante real de amarmos alguns deles. E então quem saberá dizer que rumo a vida tomará?

Jonathan Franzen, “A dor não nos matará”, Como ficar sozinho

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