Quando estamos longe dos conflitos étnicos ou nacionais é fácil falar em pós-nacionalismo, porque não há nada que faça nosso sangue ferver, e falamos situados na paz. Mas eu quero falar de ideias — não de soluções, não de deveres e princípios, nem de nada concreto —, eu quero falar de uma ideia não como um instrumento, mas como algo abstrato e muito vago. Ainda que as ideias assim abstratas não...
Suficiência e sobriedade
Eu escrevo na condição de uma pessoa completamente vendida ao capitalismo, como alguém doentiamente vaidoso, que aprecia sem reservas todas as experiências e serviços, os sabores e gostos, as texturas, os mimos, todas as delícias e os confortos do capitalismo: isso aqui é um insustentável! Não importa como nós vamos resolver o “problema” de entregar às futuras gerações um mundo...
Estar à vontade
Semana passada eu saí com o pessoal do meu novo trabalho, a empresa montou o que se conhece como um Team building. Na atividade espontânea do final de um dos dias, tomamos muitas cervejas num bar e fomos até um karaokê continuar enchendo a cara. Depois de muitas doses de licor, gin tonic e toda a sorte de bebida o ambiente e as pessoas eram outras. É uma platitude surpreendente constatar o quanto...
Sobre o relativismo
Recolocar a lógica no tempo Para fins explicativos, e partindo de um ponto de partida quase arbitrário, poderíamos dizer que o relativismo é uma consequência do triunfo da psicologia sobre as perspectivas não-psicologistas em lógica. Os modelos antipsicologistas consideravam que as regras mais gerais da linguagem (a sua forma lógica) deveriam ser puras, porque a determinação dos elementos...
Cosmopolita tendencioso: sobre patriotismo e nacionalismo
Cosmopolítica relativista (e tendenciosa) Nasci em São Paulo, me criei na Bahia (a Bahia me deu régua e compasso), mas não sou nacionalista nem patriota. Se eu me apresentasse assim a todas as pessoas, dizendo que não sou nacionalista nem patriota, quanta confusão não causaria. Não apenas porque as pessoas não gostam de discutir nada — elas gostam de sentenciar e esperam ansiosas uma validação...
O lado feminino de Don Draper
A situação era a seguinte: o terceiro filho de Betts e Don Draper havia nascido há poucos dias e a filha mais velha deles, Sally, não reagiu bem à presença do irmão, Eugene. Não muito tempo antes do nascimento, o avô de Sally morreu enquanto passava uma temporada na casa de Betts e Don. O nome do avô? Eugene! Embora Don seja um exemplo paradigmático do masculino e a série esteja centrada nos...
Coordenação ou confluência? Parte 2: a permeabilidade entre o individual e o coletivo
Segundo texto de uma série (de três) sobre confluência, o primeiro texto discute principalmente a ideia de coordenação, a contraparte estritamente corporal disso que designo como confluência (espiritual). Descobri recentemente que Alexandra Elbakyan (criadora e mantedora do Sci-Hub) pesquisa interfaces cérebro-maquina (brain-machine interface). Pesquisadores de diferentes áreas, até mesmo de...
O caso Matadero
2018 foi um ano estranho, mais de uma vez topei com pessoas que me pediam orientação — logo a mim? O caso Matadero foi apenas um desses casos e em certa medida ele está relacionado àquilo que eu insinuei no post anterior. Naquele dia nós decidimos passear pelo Matadero, um centro cultural com espaços de exposição, cinemateca, bares, que fica numa imensa área às margens do rio Manzanares. Foi...
Coordenação ou confluência? Parte 1: o exército e as redes
Esse é o primeiro texto de uma série (de três) sobre confluência. O texto seria publicado na Revista Farolete, no entanto, infelizmente a revista será descontinuada e por isso eu decidi publicá-lo aqui. Não é exatamente fácil e acessível, porque talvez seja excessivamente “experimental”, mas a ideia em si é uma das minhas preferidas. A eficiência parece indispensável, por isso talvez...
A humanidade é uma rede peer-to-peer
A tirinha é de 2017, mas continua atual. Não sou um bom leitor de Frege. Minha leitura de Frege é predominantemente second handed. É uma colcha de retalhos, como o anti-Lula de Laerte, um remendo de leituras mal feitas de boas interpretações de outras mentes (dentre as quais está o próprio Wittgenstein). Sendo assim, considere o que se segue como se fosse ficção, como se fossem os versos de um...