Fascismo Didi Mocó

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A faixa de Gaza será a nova Riviera

Um dos conceitos políticos mais importantes e mais engraçados que tomei notícia nos últimos anos é o conceito de Fascismo Didi Mocó, criado por Lucas Jerzy. Ele se encaixa como uma luva no bolsonarismo e em Bolsonaro e se aplica com a mesma precisão ao seu Führer, Donald Trump. E tenho certeza de que ele é autoexplicativo para aqueles que conhecem a referência.

Trump disse que iria transformar Gaza num resort, numa riviera of the middle east. Há poucas coisas mais ridículas do que Donald Trump, e que ele se leve a sério e diga as coisas que diz com tamanha confiança, sem nenhum receio de que será constrangido, é um claro sinal de que a estupidez venceu, ela está orgulhosamente no comando da cultura e da política humana. E não se trata de entrar numa rinha com quem quer que seja para avaliar a inteligência de qualquer um dos luminares da extrema-direita — se trata de pensar em termos valorativos e não factuais que a vitória da estupidez significa que a ciência perdeu. Que a verdade como valor se perdeu.

Nietzsche já havia antecipado esse cansaço com a verdade, o fato de que a ciência se distancia das pessoas e dá cada vez menos alegria a quem apenas aplica seus resultados, razão pela qual é preciso uma gaia ciência. E predizia que, como consequência da falta de alimento a uma parte importante da nossa mentalidade, uma cultura superior seria abortada e em seu lugar ficaria isso aqui:

Se esta exigência de uma cultura superior não for atendida, o curso posterior do desenvolvimento humano pode ser previsto quase com certeza: o interesse pela verdade vai acabar, à medida que garanta menos prazer; a ilusão, o erro, a fantasia conquistarão passo a passo, estando associados ao prazer, o território que antes ocupavam: a ruína das ciências, a recaída na barbárie, é a conseqüência seguinte; novamente a humanidade voltará a tecer sua tela, após havê-la desfeito durante a noite, como Penélope. Mas quem garante que ela sempre terá forças para isso?

A estupidez assim, quase vestida com as roupas da comédia, parece inofensiva, mas não é. Talvez seja mil vezes mais perigosa e mortal que o fascismo original.


A ciência é acima de tudo o compromisso com a inteligência humana, mesmo que ela abrigue dissidências significativas e esteja enfestada de melhoradores, há um respeito comum a uma tradição de conhecimento que se estende por milênios. A especialização vai naturalmente nos afastar dos fundadores, nenhum biólogo será tão apegado a Aristóteles quanto nós estimamos Darwin, mas ainda assim há o respeito a essa verdade como valor. A verdade como valor é diferente da verdade como fato. A verdade como fato supõe a ideia de realidade, uma quinquilharia moderna completamente dispensável, mas a verdade como valor implica uma ética do conhecimento e da ignorância que é precisamente o que está ameaçada com a ascensão da extrema-direita, com a vitória da estupidez.

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