Colonialismo espacial

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O colonialismo espacial é uma realidade — e um mercado onde circula muito dinheiro. A Índia já pousou um foguete no lado escuro da lua, investidores falam e apostam no turismo espacial, cientistas pensam a viabilidade da vida humana em Marte. Quando me ocorre que as pessoas estão pensando seriamente sobre essas coisas, 3 ideias me vem à cabeça:

Atrofia muscular. Se a atrofia já se faz notar em poucos meses vivendo no espaço, imagine então o que significa passar anos, ou viver o resto da vida longe de uma gravidade semelhante a da Terra. Parece fisicamente impossível criar ambientes com gravidade semelhante ou igual à Terra? — Não, acho bem possível que possamos fazer isso, mas não sei nada a respeito. No melhor dos casos, seria como se saíssemos da Terra e passássemos a viver em um grande carro. Ou em ambiente que se assemelham a um shopping ou um cruzeiro, fechados, longe de qualquer ambiente natural. Tudo que tocássemos seria, dali em diante, humano, artificial e não-natural. É como viver numa mini-van. Por melhor que seja, ela não substitui o ambiente natural, embora a cidade nos faça pensar que não precisamos do entorno natural e que podemos criar nossa própria biosfera.

A falta da vitamina D. O sol é essencial para a vida humana, nós não podemos sintetizar sozinhos a vitamina D que nosso corpo precisa, nós precisamos do sol. Por longos anos a falta dessa vitamina se faz sentir nos próprios corpos dos primeiros viajantes espaciais? Não sei, mas em poucas décadas nós seríamos criaturas de vidro, sem densidade óssea e sem força muscular. Viver longe do sol seria um pesadelo, um desastre para o gene humano.

Captura da série Constellation (Apple TV)

Cheiros e texturas. De todas as coisas que me fazem pensar a húbris e a mitologia científico-capitalista da exploração espacial, a falta do cheiro e da textura da Terra são as que mais me apavoram. Imaginar que se os seres humanos tiverem realmente que apostar por uma vida no espaço porque simplesmente não souberam valorizar a Terra, nenhum ser humano nunca mais poderá sentir nada parecido ao vento da orla de Salvador, imaginar isso me desespera! Das coisas da vida que se pode desejar aos outros seres humanos, do futuro ou mesmo do presente, está certamente a experiência de sentir algo como o vento da orla de Salvador. Estar condenado a nunca mais experimentar nada semelhante, mais nenhuma experiência natural como essa ou como qualquer outra, é um pesadelo! Esse desespero talvez seja coisa da minha cabeça, pode ser, e eu espero não estar naquele estágio da minha vida mental em que a gente tem vontade de abraçar os cavalos pela rua e lhes pedir perdão — mas pode ser também que esse seja o destino que os nossos amados job creators estão planejando para nós, enquanto nos preocupa onde vamos passar as férias de verão.

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