TagPsicologia

O medo

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Eu sempre fui medroso. Acho que já mudei bastante, mas ainda tenho muito medo. A tendência obsessiva quando encontra o medo é como uma fissão atômica: a força escavadora da obsessão potencializa a tendência a ensombrear própria do medo de tal sorte que os pequenos detalhes de cada coisa tornam-se — para usar a expressão de Borges que me é cara — a semente de um inferno possível. É um buraco sem...

Fingir

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Duas coisas são especialmente difíceis de aprender (de saber imitar): fingir e tocar. Isto é, saber fingir e saber tocar. Porque saber essas coisas exige prática e sensibilidade. Em certa medida a função essencial da atriz, do ator, é fingir. Fingir até que sua atuação, seu fingimento, seja real. Seja real, não pareça. Aqui, a fronteira que separa o aparente do real, ou a fantasia do real, não...

O adiamento da felicidade, a dilatação do desejo

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Talvez você não queira ler esse texto sem antes ter lido o conto de Clarice Lispector, A felicidade clandestina. Muitas coisas podem ser ditas sobre a moral do texto — se é que em realidade ele possui alguma — e uma dessas coisas é: o conto trata da necessária distância entre o que se quer e o que se tem. O que quer a menina? O livro. É tortuoso o caminho entre o seu desejo e a realização desse...

A felicidade e o culto ao prazer

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Apesar da diversidade das expressões e efeitos do capitalismo, creio que se pode dizer sem controvérsia que o hedonismo é uma marca das sociedades capitalistas. E ainda assim parece como se essa característica passasse desapercebida, como se não a notássemos. Talvez não possamos notar aquilo que está diante dos nossos olhos, mas o caso é que as consequências dessa característica são marcantes e...

A dificuldade de quem não quer ser normal

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Normal é o que se ajusta à norma, à regra, ao que cumpre a função de lei que prescreve (sem deixar alternativas) como deveríamos ser. Não existem pessoas normais, existem pessoas mais ajustadas ao imperativo de agir conforme as normas e leis (escritas ou não). Quem, no entanto, sente o código que prescreve como devemos ser como algo impessoal e invasivo não pode deixar de sentir-se...

Raiva

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Analgesia congênita. Insensibilidade congênita à dor é mais explicativo, não? É o nome da doença que afeta as pessoas que não são capazes de sentir dor. Imagina o quanto pode mudar (ou moldar) a cabeça de uma pessoa o simples fato de não poder sentir dor. Só a ausência do medo da dor física já é algo que nos transformaria imensamente — eu suponho. Agora imagine o quanto a raiva pode afetar nossa...

O cavalo de Turim e as certezas da nossa razão

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Imagem do excêntrico filme Cavalo de Turim, de Béla Tarr Contam que a loucura de Nietzsche manifestou-se num instante preciso. Se é verdade ou não, eu não sei, mas mesmo que o caso não tenha sido um episódio de loucura, ele tem seu valor simbólico. Nietzsche andava pela rua quando viu um cavalo sendo açoitado pelo seu dono. Sua reação foi a de abraçar o pescoço do cavalo aos prantos — para...

Convicção e Tendência à confirmação

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Se a única ferramenta que você tem é um martelo, você tende a ver todo o problema como um prego Abraham Maslow O que determina a nossa tendência a fazer com que as coisas, as experiências e o sentido que lhes conferimos, sempre se ajustem a nossa visão de mundo? Uma resposta possível poderia ser: o fato de não termos alternativa e de não estarmos familiarizados com perspectivas diferentes da...

Razões e causas: o chiste em Freud

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Wittgenstein tem uma reflexão muito interessante sobre a diferença entre razões e causas. Uma das ocasiões em que se pode notar a aplicação dessa distinção é num comentário sobre Freud. Traduzi   joke por chiste imaginando se tratar de uma referência a um texto que eu li e que usava a mesma expressão. Outra questão que Freud trata psicologicamente mas cuja investigação tem o carácter de uma...

Imagem: a questão do nosso tempo?

I

Qual é o papel da imagem e do outro na constituição de nossa identidade? Essa é uma questão antiga e uma das que salta aos olhos de qualquer pessoa que frequente os meios digitais. O que significa essa explosão narcisista refletida na necessidade obsessiva de controlar o modo como os outros nos percebem? O que isso nos diz sobre nós e sobre o nosso tempo?

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