O pensamento de Nietzsche foi instrumentalizado para dar estofo intelectual ao anti-semitismo e a toda sorte de bobagem. Deleuze, comentando um uso da ideia de vontade de potência, sublinhou algo muito importante que pode ser usado também para compreender a dificuldade de nadar contra a maré (sobre o que, em certo sentido, Nietzsche também escreveu).
Todo restabelecimento de valores implica solidão e desamparo, isto é, distanciamento de consensos e ausência de padrões externos de validação. É por isso que, lembra Deleuze, a força para Nietzsche — diferente do que pensam os fracos que distorcem a ideia de vontade de potência — é a plasticidade da dádiva, do conceder, e não significa um ajustar-se a padrões, mas o esforço de criá-los. Nadar contra maré não é encenar rebeldia, mas viver autêntica e corajosamente o desajuste, ainda que essa experiência não seja voluntária e deliberada, e não poucas vezes, para quem não tem força suficiente, eroda a própria vontade de viver.