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Capacidade para o mal

C

Podemos nos equivocar sobre as impressões que temos de nós mesmos? É certo que é possível se iludir, mas as ilusões são na maior parte das vezes simbólicas, constructos complexos articulados a outros símbolos. As impressões costumam ser intuições, que embora inevitavelmente também se articulem ao universo simbólico, têm algo de cru e imediato; algo que, de tão direto, parece dispensar mediações...

Encontrar os outros

E

Não é preciso estar só para desejar encontrar os outros. Sempre tive bons amigos e amigas e mesmo assim tinha também a vaga aspiração de encontrar pessoas como eu. Que merda é essa, “pessoas como eu”? — Eu não saberia explicar! Não é como se eu tivesse uma lista de critérios, ou como se existisse uma identidade comum que eu pudesse apresentar quando perguntado, era mais como a ideia...

Paranormal

P

A norma é o padrão de medida — como o padrão metro, ou polegada, ou pés, etc. — que define o que está conforme ou não ao que ela determina. É certo que no que se refere aos padrões de medida as gradações importam, enquanto que, quando falamos de normalidade e normal, tendemos a ver o que se determina em termos dicotômicos, separamos o normal e o não normal (ou anormal). Mas o anormal, aquilo que...

A margem entre o convencional e a loucura

A

Quando se encontram dois princípios que não podem ser reconciliados, seus partidários se declaram mutuamente loucos e hereges. — Wittgenstein, Sobre a certeza O convencional é uma árvore sólida e de longas raízes à margem do rio da loucura. Essa imagem tem algo de ilustrativo embora não seja mais do que isso, uma imagem. A convencionalidade visa a estabilidade e pra isso criamos regras e leis...

Fingir

F

Duas coisas são especialmente difíceis de aprender (de saber imitar): fingir e tocar. Isto é, saber fingir e saber tocar. Porque saber essas coisas exige prática e sensibilidade. Em certa medida a função essencial da atriz, do ator, é fingir. Fingir até que sua atuação, seu fingimento, seja real. Seja real, não pareça. Aqui, a fronteira que separa o aparente do real, ou a fantasia do real, não...

Escrever pra quê? Escrever pra quem?

E

Não sei quem sou, que alma tenhoExposição “Toda arte es una forma de literatura”, no museu Reina Sofia. Quem fala sozinho arrisca parecer louco, o mesmo não se aplica à escrita. A escrita não precisa de uma audiência para justificar a sua expressão. Não podemos falar sozinhos, mas podemos escrever sozinhos. A escrita não está condenada ao diálogo, portanto o monólogo lhe é permitido...

A dificuldade de quem não quer ser normal

A

Normal é o que se ajusta à norma, à regra, ao que cumpre a função de lei que prescreve (sem deixar alternativas) como deveríamos ser. Não existem pessoas normais, existem pessoas mais ajustadas ao imperativo de agir conforme as normas e leis (escritas ou não). Quem, no entanto, sente o código que prescreve como devemos ser como algo impessoal e invasivo não pode deixar de sentir-se...

O nascimento do “normal”

O

Li há poucos dias a polêmica entre o ator Alexandre Nero e uma das suas seguidoras no Instagram. A garota escreveu o seguinte: Quero ver quando você estiver com teus filhos em um restaurante e tiver 2 gays se beijando.. Alias, todas as pessoas que pregam a favor disso! Vc vai conseguir aceitar e explicar aos teus filhos o quão normal isso eh? De verdade? Sem hipocrisia! O conceito de normal é o...

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