Há algum tempo eu tenho insistido num ponto: eliminar a arbitrariedade, a vontade, qualquer elemento psicológico e qualquer coisa que escape à determinação causal da ciência corresponde à tarefa de um determinado projeto de racionalidade. Um projeto estreitamente vinculado a concepções filosóficas entretecidas à Matemática e à Lógica. De acordo com esse marco teórico, a distinção kantiana entre o...
Isso faz sentido pra você?
Há muitos modos de dizer e o mais importante numa comunicação é saber se o que foi dito tem sentido, se logramos dar sentido às palavras de tal modo que o outro possa entendê-las.
Nós fomos à Lua?
Meus interesses são tão voláteis quanto meu humor. Em 2015, quando eu estava lendo Sobre a certeza, de Wittgenstein, andei fascinado pela ideia de sistemas de referências, os sistemas pragmático-normativos que enformam nossa visão de mundo. E então escrevi um artigo, num espanhol ainda mais precário do que tenho hoje, chamado ¿Hemos ido a la Luna? O artigo não era a defesa de teses...
A margem entre o convencional e a loucura
Quando se encontram dois princípios que não podem ser reconciliados, seus partidários se declaram mutuamente loucos e hereges. — Wittgenstein, Sobre a certeza O convencional é uma árvore sólida e de longas raízes à margem do rio da loucura. Essa imagem tem algo de ilustrativo embora não seja mais do que isso, uma imagem. A convencionalidade visa a estabilidade e pra isso criamos regras e leis...
Filosofia e Ficção
Por uma razão simples a ficção não pode ter um papel central na ciência nem na filosofia científica que temos adotado: elas estão centradas na verdade e em sua eficácia causal. A ficção não tem nenhum compromisso essencial com a verdade. Alguém poderia até dizer que algumas das experiências ficcionais mais significativas fazem da verdade um mero fantoche no jogo complexo de articulações em nada...
O relativismo e a Justiça
O relativismo não é o bicho de sete cabeças que se imagina por todo lado. Na verdade ele é bastante intuitivo. E é preciso um grande esforço para seguir sustentando crenças universais uma vez que tenhamos sido expostos às circunstâncias em que o relativismo se manifesta. Mas é muito complicado aceitá-lo, não por outra razão o aforismo 81 de Humano, demasiado humano conta uma lição das mais...
Escrever pra quê? Escrever pra quem?
Não sei quem sou, que alma tenhoExposição “Toda arte es una forma de literatura”, no museu Reina Sofia. Quem fala sozinho arrisca parecer louco, o mesmo não se aplica à escrita. A escrita não precisa de uma audiência para justificar a sua expressão. Não podemos falar sozinhos, mas podemos escrever sozinhos. A escrita não está condenada ao diálogo, portanto o monólogo lhe é permitido...
Dizer o óbvio
“— Todo mundo sabe a importância do Sci-Hub ou do Library Genesis para pesquisa científica e filosófica.” Os aspectos para nós mais importantes das coisas estão mascarados pela sua simplicidade e trivialidade. (Não podemos notá-los, — pois os temos sempre diante dos olhos.) Os verdadeiros fundamentos de sua pesquisa não chamam a atenção dos homens. A menos que eles já os tivessem notado alguma...
O poder é isso. E isso. E isso!
A pergunta “O que é o poder?” — que Gérard Lebrun respondeu com sua maestria habitual na Coleção Primeiros passos — tende a nos levar a um tipo de resposta. Não necessariamente, claro, mas nós tendemos a buscar algo comum às distintas manifestações de poder. O que há em comum no poder manifesto, por exemplo, pelo presidente americano e aquele que um traficante expressa ao determinar o...
Pensamento: expressão e edição
Os garranchos de Wittgenstein e sua obsessão pela edição e revisão. Em certo sentido esse texto é um tributo a Wittgenstein, sinto que devo tanto a ele. Se eu tivesse lido A arte de escrever alguns anos atrás teria sido terrível. Ali Schopenhauer apresenta o que ele julgava ser tipos de pensamento e de pensador. Não teria sido legal me ver entre os tipos mais vulgares, por assim dizer. Por pura...