The modern phenomenon of nonsense jobs:
In 1930, John Maynard Keynes predicted that, by century’s end, technology would have advanced sufficiently that countries like Britain or the United States would have achieved a 15-hour working week. There’s every reason to believe he was right. In technological terms, we are quite capable of this. And yet it didn’t happen. Instead, technology has been marshalled, if anything, to figure out ways to make us all work more. In order to achieve this, jobs have had to be created that are, effectively, pointless.
Mais tarde Marcuse escreveria um libelo contra o trabalho (em Eros e civilização), no lastro de suas reflexões sobre o mal estar diagnosticado por Freud. O ciclo de produtividade cega do capitalismo precisa apagar do nosso campo de visão os princípios que orientaram a associação entre homens e assim implementar um sistema capaz de reprimir ainda mais os instintos reprimidos em nome da cultura (de outro modo poderíamos chegar a conclusão de que já temos recursos bastantes para diminuir a carga de trabalho necessária em nome dos princípios e fins determinantes). Claro, há uma compensação que, tanto lá em Marcuse, como no artigo em destaque, se explica pelo consumo (expectativa e satisfação dele resultantes) e que, no entanto, não é capaz de promover a homeostase necessária para dissipar o sentimento de mal estar e regenerar a scar across our collective soul. Tudo isso, naturalmente, no quadro de uma arqueologia da civilização.
Mas é em Nietzsche (já que ele anda povoando o blog regularmente) que a crítica ao abandono da autodeterminação e o caráter maquinal da inserção no sistema de trabalho ganha um caráter jovial e divertido. Nele, a crítica está relacionada ao caráter irrefletivo (irracional mesmo) da atividade — não sem razão, na Genealogia da moral, fala-se da “benção do trabalho”, isto é, do alívio que o trabalho proporciona a quem sofre e não quer pensar nas razões (no sentido!) do seu sofrimento: “o alívio consiste em que o interesse do sofredor é inteiramente desviado do sofrimento – em que a consciência é permanentemente tomada por um afazer seguido de outro, e em conseqüência resta pouco espaço para o sofrimento”. Mas voltando à crítica nietzschiana aos homens ativos, vou transcrever para vocês três aforismos imperdíveis de Humano, demasiado humano, que não tem o caráter dirigido das críticas de Marcuse e das observações de Maynard, mas não deixam de ser incrivelmente oportunas:
283. Defeito principal dos homens ativos. — Aos homens ativos falta habitualmente a atividade superior, quero dizer, a individual. Eles são ativos como funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como representantes de uma espécie, mas não como seres individuais e únicos; neste aspectos são indolentes. — A infelicidade dos homens ativos é que sua atividade é quase sempre um pouco irracional. Não se pode perguntar ao banqueiro acumulador de dinheiro, por exemplo, pelo objetivo de sua atividade incessante: ela é irracional. Os homens ativos rolam tal como pedra, conforme a estupidez da mecânica. — Todos os homens se dividem, em todos os tempos e também hoje, em escravos e livres; pois aqueles que não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito.
284. Em favor dos ociosos. — Como sinal de que decaiu a valorização da vida contemplativa, os eruditos de agora competem com os homens ativos numa espécie de fruição precipitada, de modo que parecem valorizar mais esse modo de fruir do que aquele que realmente lhes convém e que de fato é um prazer bem maior. Os eruditos se envergonham de otium [ócio]. Mas há algo de nobre no ócio e no lazer. — Se o ócio é realmente o começo de todos os vícios, então ao menos está bem próximo de todas as virtudes; o ocioso é sempre um homem melhor do que o ativo. — Mas não pensem que, ao falar de ócio e lazer, estou me referindo a vocês, preguiçosos.
285. A intranquilidade moderna. — À medida que andamos para o Ocidente se torna se torna cada vez maior a agitação moderna, de modo que no conjunto os habitantes da Europa se apresentam aos americanos como amantes da tranquilidade e do prazer, embora se movimentem como abelhas ou vespas em vôo. Essa agitação se torna tão grande que a cultura superior já não pode amadurecer seus frutos; é como se as estações do ano se seguissem com demasiada rapidez. Por falta de tranquilidade, nossa civilização se transforma numa nova barbárie. Em nenhum outro tempo os ativos, isto é, os intranquilos, valeram tanto. Logo, entre as correções que necessitamos fazer no caráter da humanidade está fortalecer em grande medida o elemento contemplativo. Mas desde já o indivíduo que é tranquilo e constante de cabeça e de coração tem o direito de acreditar que possui não apenas um bom temperamento, mas um virtude de utilidade geral, e que, ao preservar essa virtude, está realizando uma tarefa superior.
Da série: Trabalhar cansa.