Humano, demasiado humano é um pote de ouro. É um livro que eu não canso de reler. Só Nietzsche pode sublinhar a relação improvável entre a alegria e a ciência, e explicar com simplicidade quase desconcertante o fenômeno da post-truth tanto tempo antes dele ter lugar. Só mesmo uma gaia ciência parece capaz de nos livrar do puzzle-solvers (de livrar eles mesmos do seu fardo) e fortalecer o...
Why the golpe matters
Coluna de Mônica Bergamo onde a gente lê sobre a confissão de Barroso. Eu sou do time dos que acham que se a gente não tem dispositivos legais ou políticos para impedir que uma presidenta eleita seja injustamente deposta, a gente tá fodido! Não é como se nós tivéssemos perdido uma coisa qualquer, algo sem importância, e não nos restasse mais que olhar pro outro lado, dizer “a vida é dura...
Nadar contra a maré
O pensamento de Nietzsche foi instrumentalizado para dar estofo intelectual ao anti-semitismo e a toda sorte de bobagem. Deleuze, comentando um uso da ideia de vontade de potência, sublinhou algo muito importante que pode ser usado também para compreender a dificuldade de nadar contra a maré (sobre o que, em certo sentido, Nietzsche também escreveu). Todo restabelecimento de valores implica...
A humanidade é uma rede peer-to-peer
A tirinha é de 2017, mas continua atual. Não sou um bom leitor de Frege. Minha leitura de Frege é predominantemente second handed. É uma colcha de retalhos, como o anti-Lula de Laerte, um remendo de leituras mal feitas de boas interpretações de outras mentes (dentre as quais está o próprio Wittgenstein). Sendo assim, considere o que se segue como se fosse ficção, como se fossem os versos de um...
História do possível e do impossível
Por volta de 1950, pouco antes de morrer, Wittgenstein escreveu sobre a ideia do homem ir à lua no que depois viria a ser o livro Da certeza. No contexto das suas anotações, essa ideia era apenas um modo de usar ficções e casos extremos para ilustrar aspectos conceituais e gramaticais que de outro modo não seriam notados. Meros vinte anos depois, se tornou real o que era então exemplo patente de...
O problema do mundo
Se você perguntar, todos sabem dizer a razão porque o mundo vai mal! (Perdão, eu espero que você me conceda isso, ou pelo menos que imagine que eu posso afirmar isso). E eu não sou diferente, tenho minhas razões. A principal delas é uma divergência entre Aristóteles e Platão, uma diferença expressa na Ética a Nicômaco, logo no começo, se não falha minha porca memória. Uma divergência a respeito...
Na fronteira do ateísmo
Eu nunca fui um ateu caricato, cuidei pra não ser. Desses que citam Bertrand Russell em sua fase mais panfletária. Mesmo em sua fase mais panfletária, permitam que eu me corrija, as coisas que Russell escrevia ou dizia tinham a marca de sua notória inteligência e generosidade. Bem, o que eu quero dizer é que meu ateísmo tem grande componente de reflexividade, não é um mero ativismo intelectual...
Quanto as Big Tech sabem sobre nós?
Eu poderia aplicar um algoritmo de análise de sentimentos no meu perfil do Twitter. Uma análise simples, binária, positivo e negativo, só pra ter uma ideia do tipo de sentimentos que predomina nos meus tweets (eu sei qual!). Há milhões de tutoriais — pra todos os níveis — sobre como fazer isso, usando o Python, por exemplo. Você pula a matemática (se quiser), vai direto pro código, segue os...
Invocações, encantamentos e entoações
A linguagem comporta algo de irreal, mágico, sobrenatural, algo que muitas experiências espirituais se esforçaram por canalizar e integrar (não entender).
Sobre a Astrologia
De onde vem a tendência crescente a negar o caráter científico da Astrologia? O Círculo de Viena tinha sólidas razões para querer eliminar do mapa tudo que não pudesse sustentar as credenciais científicas. Quando o Wittgenstein do Tractatus Logico Philosophicus apareceu com seu modelo figurativo da linguagem não surpreende que ele tenha sido saudado como o tão esperado Messias. (Um meme pode ser...