E uma outra filosofia da história
A primeira paixão não herdada que eu desenvolvi na vida foi pela psicologia, particularmente por Freud. Talvez por intuir que em alguma medida eu precisava disso. Depois dos 30 eu me vi apaixonado pela antropologia.
Apaixonado pela irredutível diversidade dos tipos humanos. Apesar de ser uma pessoa estereotipicamente urbana, me fascina as formas de vida menos complexas, porque nossa complexidade me parece pouco saudável. Parecemos super-excitados, nos entediamos muito facilmente.
E dessa paixão por Lévi-Strauss, Pierre Clastres e Peter Winch, veio a necessidade de aprender com o “inferior” e de abandonar uma noção linear de História. A linearidade empresta sentido a ideia de “progresso” e “desenvolvimento”, como se fossemos melhoramentos (updates) dos animais e das sociedades arcaicas.
Não há como aprender o que é preciso com os “primitivos” e com os animais a menos que a gente se veja como eles, que sejamos como eles — e não que sejamos outros, de outro tipo. Quem só aprende com formas “superiores” de ser: deuses, androides e extraterrestres, tem poucos com quem aprender.
Aprender com os “primitivos” significa re-pensar a nossa relação com a complexidade, rejeitar o dogma da complexidade e pensar sobre e a partir do simples. Pensar o que há de não apenas bom, mas DESEJÁVEL em não ser desenvolvido. Nietzsche escreveu em seu Zaratustra: “Curvo é o caminho da eternidade”.