O efêmero e o encontro

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Nós temos um medo do efêmero, do passageiro, daquilo que chega e logo parte, que nos faz buscar com frequência o estável, o duradouro, o permanente. Especialmente nas relações pessoais. E é curioso que às vezes aquilo que a gente mais conhece e estima a respeito das relações entre seres humanos pode se definir em questão de minutos: em 30 ou 50 minutos, em 2 horas, quem sabe? Certos encontros nos fazem ansiar por novos encontros, e buscamos em todo novo encontro repetir uma experiência de conexão que parecia impossível de tão imediata e real.

Tudo fica melhor quando a gente descobre que é capaz de experimentar conexões imediatas com outros seres humanos. Tudo! E a vida ganha um sabor incerto — ora uma doce esperança, ora a mais amarga desilusão — por causa da sempre presente possibilidade de novos encontros e por causa do fato de que eles estão contados, fadados a terminar e a se esgotar um dia.

A partir disso, somos lançados à eterna busca por encontros e ao medo constante de não tê-los nunca mais. O mundo muda porque nós mudamos, porque sentimos que num sentido muito importante não há diferença entre eu e o mundo, ou entre eu e você, somos o mesmo. Reconhecer a si mesmo nos outros nos permite estabelecer uma conexão imediata com eles — conexão tão absolutamente improvável, tão decididamente impossível. E essa conexão torna possível a espontaneidade, o estar à vontade, o agir sem máscaras, o descobrir a nós mesmos. É o caminho de uma confluência.

A Casa da Farinha só é possível num mundo onde os outros seres humanos (e cada um deles) são sempre uma oportunidade e uma esperança de encontros, de reviver uma experiência muito querida de conexão e pertencimento, nessa rede peer-to-peer que é a humanidade. E esse é o sentido de uma ética cosmopolítica, e também de algo para além do discurso e da palavra! Algo paradoxalmente animal e espiritual: wireless é a melhor metáfora, conexão sem cabos, conexão invisível.

PS. Esse post é um mapa de temas links ligados a boa parte dos meus textos sobre ética, política e àquilo que se poderia denominar uma tecnosofia, um conjunto de reflexões éticas sobre tecnologia (determinação, psicologia e complexidade) e sociabilidade (amizade e cosmopolítica).

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