Hermanauta abandonou o barco. Antes dele Idelber. A blogosfera pátria não repõem as perdas que sofre. É certo que muita gente boa começou a escrever nos últimos anos, mas lhes falta algo (mas não é uma falta que os diminua).
(Eu juro que andei pensando nos últimos dias, antes de saber da notícia da hibernação do Hermenauta, em pedir que ele fizesse um screencast do seu modus operandi. Porque eu sempre me considerei um usuário avançado de operadores de pesquisa e até tenho uma relativa habilidade, mas perto dos achados do Hermanauta eu pareço uma criança engatinhando. O sujeito entendia da coisa. Além de possuir uma memória absurda, coisa que, aliás, eu nunca terei. Enfim, esse é o domínio de certas técnicas e habilidades que um sujeito pode ter, e o Na Prática bem elencou as qualidades do novo papai.)
Mas, como eu disse, algo não se renovou. Quer dizer, não se trata tão somente de substituir pessoas talentosas e inteligentes. Essa boa gente que parte tem, além das sabidas qualidades, um certo poder agregador que é o diferencial. As qualidades dessas pessoas são exponenciadas pela capacidade centralizadora que os transformaram em pontos de amplificação do debate, em eixos de linhas de diálogo as mais diversas. Vejam as discussões do Idelber, ele pautava tanto as conversas de gente que o admirava, como era frequente ler, no blog de pessoas irmanada ao Tio Rei e ao Olavão, comentários nada lisonjeiros sobre seus posts. Para quem nunca entendeu a insistência em acompanhar o Tio Rei, Hermanauta fazia das suas constantes críticas apenas um expediente para apontar um certo um discurso político, muito em voga no Brasil, que não se vê obrigado nem mesmo a ser coerente — quem dirá verdadeiro. E fazia isso com elegância, objetividade e, especialmente, com espirituosidade. Parecia divertido ler aquelas asneiras e procurar, na memória e nos artigos, as contradições mal disfarçadas.
Desde que eu entrei na blogosfera aprendi o valor da objetividade. Com muita gente que, ainda agora, ou antes, sabe identificar e expôr o núcleo de um problema sem se comprometer com nuances que o tornariam desinteressante — coisa que um dia eu aprenderei a fazer. Aliás, que a maioria dos profissionais de filosofia deveria aprender. Mas, repito, o que eles deixam insubstituído é um certo espírito agregador, indispensável em tempos de eleição. Também a espirituosidade para lidar com as coisas sérias, tática mais que adequada para evitar problemas de pressão. Vamos torcer para que outros consigam cumprir essa função — não sei como funciona a coisa a lá fora, mas aqui havia e ainda há muita camaradagem entre as pessoas que se frequentam, isso é muito saudável e aumenta ainda mais a sensação de perda sempre que alguém deixa de escrever — ou para que os antigos, aposentados ou hibernantes, acordem do sono de inverno para novamente nos fazer companhia.
PS. Foi um desmonte tão bem orquestrado que eu penso que a diretoria do Corinthians está dirigindo também os rumos da blogosfera.
Ótima abordagem. Não tinha pensado na coisa toda por este ângulo, e agora que penso acho que você tem razão. Você resumiu bem o que mais tínhamos nesses blogs: tratamento espirituoso de tolices da grande imprensa, e espírito agregador. E sim, um screencast do Hermenauta seria ótimo!
É, César, eu sou da opinião que as pessoas mais destacadas não são as que simplesmente possuem inteligência, mas as que colocam sua inteligência a serviço de um caráter singular e presente.
E nesse caso acho que "perdemos" duas personalidades extraordinárias.