Somos e não somos dados

Nem toda contradição fracassa ao tentar dizer algo com sentido. Em realidade, há sentidos que só se mostram por meio de contradições. Um exemplo pra ilustrar o que eu quero dizer.

Informações da minha própria máquina e suas configurações registradas nas estatísticas do blog

Somos dados porque nos tornamos commodities negociadas num mercado subterrâneo desconhecido pela maior parte das pessoas. De uma forma ou de outra, tudo que fazemos na internet está registrado. Ainda que existam meios de distorcer e falsificar certas informações sobre a origem ou conteúdo daquilo que fazemos (VPNs, anonymizers com o projeto Tor, criptografia, etc), os registros dos pedidos e transações entre os computadores estão armazenados em certos elos da rede por meio das quais eles circulam. O simples acesso ao servidor onde está hospedado uma página é suficiente para gerar informações sobre geolocalização (baseadas no IP do cliente), além de dados sobre sistema operativo, idioma e até resolução da tela na qual a página foi acessada (a imagem acima). Um banco de dados como o do Facebook ou da Google são uma mina de ouro. Quando ordinariamente digitamos um comentário no Facebook ou quando sem maiores preocupações fazemos uma busca no Google (logados em nossos perfis), esse comentário ou essa busca se acumulam num imenso reservatório que abriga as nossas outras ações, todas elas. O conjunto dos comentários, likes, pesquisas e outras ações dentro do Facebook ou do Google pode parecer um mero agregado unido apenas pela relação com nossa identidade, mas é justamente a relação com nossa identidade o que torna esses dados potencialmente interessantes e economicamente valiosos. As empresas de tecnologia veem nesse agregado uma fonte na qual garimpar regularidades e identificar padrões desconhecidos até mesmo para os responsáveis por tudo aquilo. Diz algo sobre nós aquilo que se repete, o que é regular. Vejam por exemplo a análise que Jose Roberto Toledo faz da nuvem de palavras nos programas dos candidatos. Ali, os termos se repetem não por mero acaso.

Os padrões identificados por algoritmos alimentam um mercado ansioso por dirigir seus produtos e serviços a pessoas com maior potencial de consumo. Por exemplo, quem vende um produto para mulheres grávidas prefere que ele seja oferecido a mulher que a homens, pois não é como se não fizesse diferença. Se pudéssemos pesquisar diretamente dentro da base de dados do Facebook (em certo sentido podemos) não seria difícil identificar potenciais clientes. Filtrando palavras como “bebê”, “grávida”, “gravidez” logo chegaríamos a uma lista provável de potenciais clientes.

(Hoje em dia quem quiser ganhar dinheiro tem um caminho certo e seguro: investir numa formação em Data science [Big Data, Machine learning e outras ferramentas]. Os profissionais ainda são relativamente poucos num mercado que movimenta mais de 200 bilhões de doláres anuais. Diariamente chega a minha caixa postal alguma proposta de curso de análise de dados. Este segmento do mercado de formação cresce exponencialmente em razão do aumento do uso de análise de dados como ferramenta para orientar a tomada de decisão não apenas na área de marketing, mas também no setor financeiro e tantos outros setores. Exemplos inusitados e interessantes do que se pode fazer analisando dados: 1) expert systems [um ramo das pesquisas em inteligência artificial] são usados para selecionar uma entre teorias que tem sólida base empírica e cujos pesquisadores são igualmente respeitados. 2) um engenheiro de software ensina a usar Python usando de dados públicos reunidos pelas instituições de uma cidade [Chicago, no caso], dados como números de buracos nas ruas, horários de ônibus, é fascinante.)

Acontece que os dados coletados na rede não tem apenas valor comercial, eles revelam uma dimensão que com frequência perdemos de vista: somos também máquinas. Há tempos a humanidade é contraposta a autômatos, robôs e androides, que se tornaram símbolos de sistemas cujo funcionamento é inteiramente previsível e que não dão lugar a variações drásticas (salvo em caso de mau funcionamento). Em Westworld, por exemplo, é evidente a crença de que os androides não podem agir senão conforme suas instruções, pois suas ações dependem de como eles são programados (coded). No entanto, uma parte significativa do nosso funcionamento é também mecânico e maquinal. O componente maquinal de nossa constituição não é, a meu ver, um obstáculo à ideia de liberdade (como não é em Westworld), mas ele nos torna vulneráveis a manipulações cada vez mais evidentes. O uso político de informações privilegiadas, como no caso da Cambridge Analytica, potencializa a capacidade de convencimento e persuasão de qualquer estratégia política, pois a envolve em termos familiares. A propaganda deixa de ser uma mera peça genérica e impessoal para tornar-se uma ação dirigida, composta segundo padrões aos quais sabidamente somos sensíveis. Os aplicativos que são capazes de identificar doenças pela mera análise dos padrões do uso do mouse e teclado revelam que a tecnologia ainda pode contar muito sobre nós mesmo, pois há muito o que desconhecemos. Se essas informações chegarem primeiro aos interessados em dirigir nossa ação e nossa atenção num determinado sentido seremos presas fáceis e indefesas de uma instrumentação política pouco comprometida com nossos interesses e necessidades e nada interessada no bem público.


Não somos dados porque não nos limitamos aos dados que nos constituem e com os quais tentam nos definir e reduzir. A dimensão maquinal que nos compõe não é tudo que somos, pois somos maiores que a soma das nossas partes. No entanto, prevalece em nosso modo de ver o mundo a pretensão de mapear a totalidade utilizando exclusivamente o esquema binário daquilo que se conhece e do que não se conhece. Sendo assim, somos os dados que se conhecem — aqueles que se deixam filtrar na infinidade de dispositivos nos quais involuntária e inconscientemente deixamos registradas informações sobre nós mesmos — mais aqueles que ainda não se conhecem pois ainda não criamos os dispostivos apropriados para garimpá-los. Diante disso, acreditar na liberdade significa acreditar que esse esquema não esgota o que somos e que o campo extensional (daquilo que se reduz a verdades) é demasiadamente estreito para nos conter (mesmo que nele estejam inscritos também as bases naturais da intencionalidade).

A predomínio (a gente poderia dizer a hegemonia) de certas ideias produz a impressão de que nos limitamos aos dados que produzimos. Contribui para essa perspectiva a força predominante do marco científico e, particularmente, um certo modelo de consciência que enfatiza as similaridades entre a nossa mente e o modelo computacional. É como se nossa mente fosse um mero computador a processar informações e estímulos exteriores e interiores. Um computador igualmente composto de hardware (o cérebro) e software (a consciência). Daí a ideia de que a Inteligência Artificial não apenas poderia replicar a inteligência e o entendimento humano, mas também explicá-los. John Searle tem um artigo bem interessante sobre esse ponto, mas num livro posterior ele resume claramente sua objeção a essa perspectiva:

A computação é definida sintaticamente. É definida em termos de manipulação de símbolos. Contudo, a sintaxe em si mesma não pode nunca ser suficiente para o tipo de conteúdo que apropriadamente acompanha pensamentos conscientes. Em si mesmo ter apenas zeros e uns é insuficiente para garantir conteúdo mental, consciente ou inconsciente (…) Absolutamente essencial para entender a natureza das ciências naturais é a distinção entre aquelas características da realidade que são intrínsecas e aquelas que são relativas a um observador. A atração gravitacional é intrínseca. Ser uma nota de cinco dólares é relativa a um observador. Agora, a grande objeção às teorias computacionais da mente pode ser formulada com bastante clareza. A computação não nomeia uma característica intrínseca da realidade, mas uma relativa ao observador, e isso porque a computação é definida em termos de manipulação simbólica, mas a noção de ‘símbolo’ não é uma noção da física ou química. Algo é um símbolo somente se é usado, tratado ou considerado como um símbolo. (…) Não há nenhuma propriedade puramente física que zeros e uns ou símbolos em geral possuam e que determine que eles sejam símbolos. Algo é um símbolo somente relativo a algum observador, usuário ou agente que lhe atribua uma interpretação simbólica. Então a questão, “É a consciência um programa de computador”, não tem sentido claro.

John Searle, Consciousness and Language

Num texto mais que recomendável, Douglas Rushkoff alerta igualmente para a ilusão da redução da experiência humana à imagem de meros processadores de informação.

Há anos os filósofos da tecnologia advertem: a visão transhumanista reduz com demasiada facilidade toda a realidade aos dados e conclui que “os seres humanos não são mais que objetos processadores de informação”.

O transhumanismo é apenas uma das faces e uma das consequências da ênfase excessiva sobre o que há de maquinal em nós. Se antes éramos o fantasma na máquina, agora que vivemos na era dos computadores parece ainda mais tentador converter a alma ou espírito no software que roda num hardware, sendo possível copiar este software, conservá-lo e transportá-lo para um diferente hardware. Dar um upgrade quando a antiga máquina não estiver mais funcionando apropriadamente. Quem sabe até mesmo atingir a eternidade por meio de técnicas de conservação e transposição de hardware. A obsessão humana por controle e estabilidade encontra na analogia com o hardware e software mais uma razão para apostar suas fichas numa solução tecnológica para as contingências da experiência humana.

Conhecer, computar e processar dados parece tudo quanto basta para esgotar aquilo que somos. Como se fossemos meramente um agregado de informações que podem ser extraídas e depois reunidas sob determinada ordem. Ainda que os dados e informações fossem em certo sentido suficientes para nos esgotar, não é como se esses dados determinassem sempre a mesma imagem daquilo que somos. Supomos que eles são como peças de um complexo quebra cabeça e se conseguirmos amealhar peças suficientes poderemos ter uma imagem clara de nós. É certo que conhecer essas peças nos habilita a saber como agir diante da máquina em que elas estão integradas, mas isso não significa que este domínio técnico (esse saber fazer) corresponda a um conhecer, num sentido importante. No interior de uma sociedade obcecada por domínio e controle, é difícil distinguir o conhecimento que nos habilita a manipular os fenômenos naturais com eficiência daquele que nos permite dizer com confiança que conhecemos alguém. Diante dessa distinção nossa tendência natural é responder: mas o que sobra, para além desses fenômenos naturais cujo domínio buscamos e ao quais parecemos nos resumir? O que há mais para conhecer? Há algo do lado de fora, ou melhor, pode haver algo? A metáfora do quebra cabeça talvez ajude a entender como o conhecimento pode produzir a possibilidade de controle e domínio, mas aquilo que ela tem de insatisfatório na hora de oferecer uma imagem adequada do que se diz quando dizemos conhecer alguém, por sua vez, nos ajuda a ver as limitações dessa metáfora e da própria pretensão de reduzir tudo a conjunto de dados determináveis.

As informações que nós temos das pessoas são partes de algo maior, algo indeterminável, embora estejamos inclinados a acreditar que existe um limite que funciona como uma fronteira, demarcando a totalidade do que somos e nos separando daquilo que não somos. Quando supomos que essas informações se unem a outras para formar um quebra-cabeça, nós representamos por meio de uma imagem a relação entre as partes e o todo. No entanto, as partes que compõem esse quebra cabeça (o todo) não podem ser organizadas de qualquer jeito, pois assim elas não se encaixariam e não seriam um retrato autêntico do que se representa. Cada peça tem o seu lugar. Para conhecer e manipular as pessoas tal como fazemos com as máquinas precisamos que a relação entre o todo e as partes esteja sujeita a uma ordem, funcione segundo regras e esteja emoldurada numa forma que se pretende universalmente reconhecível. A regularidade permite o controle e a criação de teorias que descrevem o comportamento da máquina. Assim, é preciso eliminar tudo aquilo que no comportamento da máquina parece inexplicável, fruto do mero acaso ou manifestação daquilo que tendemos a chamar de liberdade. É preciso eliminar o componente arbitrário (reduzindo-o a uma regularidade). Mas não conhecemos a nós mesmo nem as outras pessoas como quem reúne e acumula informações. É certo que o garoto que conhece os gostos da menina por quem é apaixonado talvez tenha mais chances que o outro que não os conhece, mas justamente porque esse conhecimento pode ser uma ferramenta pra produzir um efeito (aqui, como no caso da máquina, a causalidade é o que importa). No entanto, conhecer mais não necessariamente significa conhecer melhor. A despeito da inegável possibilidade de converter o que somos num conjunto infinito de dados, há uma incontornável liberdade com que se costura o sentido daquilo que nós mesmos somos, ou do que são os outros. As informações e dados sobre os outros podem sempre ser rearranjadas numa nova ordem, de acordo com novos eixos, de modo a provocar uma transformação radical no entendimento daquilo que se conhece. Claro que uma transformação pode ser impulsionada por novos conhecimentos, mas ela pode ser um mero rearranjo do que se sabe. Dados e informações não são forças que se impõem sobre as pessoas que os observam. Como símbolos que são, eles exigem interpretação e isso significa não apenas o trabalho de quem os coloca em seu devido lugar numa ordem já pré-determinada (no quebra cabeça), mas também a possibilidade radical de construir novas ordens, novas estruturas nas quais aquelas informações funcionam segundo outros eixos e diferentes fundações.

A coisa insidiosa sobre o ponto de vista causal é que ele nos leva a dizer: “Naturalmente, — é assim que tem que acontecer”. Enquanto deveríamos dizer: poderia ter acontecido assim, e também de muitos outros modos.

Wittgenstein, Cultura e valor

A força da linguagem, aquilo que ela tem de mais sublime e poderoso, consiste não na possibilidade de representar verdadeiramente o mundo (e a nós mesmos como parte dele), mas na possibilidade radical de apresentá-lo de outra maneira, reconstitui-lo a partir do mesmos elementos. A identidade do que nós somos ou do que são os outros depende significativamente do modo como arranjamos o que sabemos sobre nós e sobre o mundo. Ou como situamos, num plano mais amplo, o mistura entre o que sabemos e o que ignoramos. Mesmo que a ciência só admita um modelo de causalidade, ainda que só esse modelo seja eficiente, nós temos a liberdade de fazer o que quisermos com o que sabemos, de criar e produzir sentido. E é isso que nos impede de sermos reduzidos às informações sobre nós capturadas pelo sem número de filtro da rede computadores.

Um dia triste para a blogosfera

Demorei muito a descobrir os blogs. Para mim, tudo começou no blog do Rafael Galvão, mais precisamente, na seção As alegrias que o Google me dá. Fui lançado lá por acaso, através de uma pesquisa, e como não poderia deixar de ser, fui presa da sua espirituosidade. Logo descobri que por ali também havia inteligência. Inteligência e humor são duas coisas que eu não dispenso. Passei então a acompanhá-lo e através da sua lista de blogs, percebi que existiam sim pessoas muito inteligentes escrevendo na internet (coisa que então eu julgava improvável). Hermanauta (ainda no subsolo), Marcus (ainda no Velho do Farol 1.0); comecei, através de Rafael, a construir minhas preferências e referências em termos de blogs e leituras via internet. A rede foi se desdobrando em torno dessa cadeia.

Meu agregador de feeds hoje lista mais de 6000 itens não lidos. Há tempos já não dou conta das coisas, todas muito interessantes, mas incompatíveis com as minhas necessidades de produção e leitura. No entanto, sempre encontrei tempo para conferir as atualizações de Rafael. Pra mim, apesar das novas aquisições e das centenas (talvez milhares) de coisas boas que hoje eu sei que existem nessas paragens, Rafael continua sendo o melhor blogueiro da nossa amada pátria. Já não faço ideia de quantas pessoas eu induzi a acompanhá-lo, de quantos textos paradigmáticos eu identifiquei e defendi como se fossem meus. Minha identificação passava pela ideia de mulher, e chegava até os característicos acessos de, como dizer, politicamente incorreto que não raras vezes marcaram os posicionamentos de Rafael. Em questões políticas, nada a declarar, o tempo deixou claro que poderíamos subscrever cegamente tudo que ele dissesse.

Nunca tive a leveza e o talento que distinguiam os blogs que Rafael menciona — aliás, foi só por meio deles que aprendi a necessidade imperiosa de se desenvolver essas características –, e mesmo assim fui prontamente abrigado no rol de blogs à direita do seu próprio, o que nunca deixou de ser para mim uma enorme honra. Um motivo adicional para me sentir como que apadrinhado. Agora, de repente, chega a notícia de que o blog de Rafael acabou. Sinto tristeza como a de quem perdeu um amigo. Nesses tempos em que a superficialidade grassa, a personalidade desaparece sob os escombros de mil códitos de conduta, agora que nossas ações parecem todas cifradas em algum receituário, nos tempos em que as ideias deram lugar à expressão terapêutica das opiniões (a doxocracia da internet), é assustador pensar que não conteremos mais com as suas ideias. Rafael colocava sua inteligência e formação à serviço da  espirituosidade, do humor e leveza que atravessam seus textos. Lê-lo era como sentar no final da tarde de um dia cansativo, com um amigo, para tomar uma cerveja e falar descomprimissada e profundamente sobre coisas as mais diversas. Em nenhum momento o tom debochado comprometia o rigor das ideias que estavam ali, animando a sua expressão. O caráter controverso que com frequência emprestava às suas palavras, dizendo coisas que arrepiavam os zelosos vigilantes das boas maneiras, mal disfarçava seu caráter e o coração de fazer inveja ao mais compromissado defensor do que quer que fosse. Hoje, então, a internet ficou menos inteligente, menos divertida, menos controversa. Adeus, amigo!

PS. Sempre pareceu que os acusadores de Rafael se apressavam em condená-lo. As consequências que eles pensavam extrair dos seus textos mais polêmicos colidiam frontalmente com o sentido profundamente raro de alguém capaz de sublinhar, apontar, e nos dizer algo sobre um momento da história que para a maioria passa despercebido — isto é, colidiam com um sentido profundo de humanidade que jamais poderia se deixar sobrepujar pelo tacalho de qualquer aspecto verdadeiramente importante.

Uma tirinha genial

Grande parte da minha vida eu passei buscando uma tirinha que ilustrou uma prova que eu fiz quando ainda era estudante do ensino fundamental. Hoje descobri por acaso que a tirinha era do Glauco.

Ela sugere que os agentes que estão ali para reprimir também tem valores, preferências e interesses. Mas que força ou motivo é capaz de fazer calar essas inclinações pessoais? A ideia de dever está na base das coisas mais vergonhosas que já se fez na história. É o dever que costumeiramente cala a consciência, quando se é impelido a comportamentos incompatíveis com aqueles que se deve fazer no exercício de alguma função. Bem, eu gostaria de dizer algo mais sobre o assunto, mas hoje não posso. Aproveito pra me desculpar pela ausência. É um desaforo acompanhar um blog atualizado em intervalos tão espaçados. Não desistam! Fica a homenagem ao mestre Glauco.

PS. Descobri também que sou um slow blogger por puro descaramento.

Links

Fuçando meus favoritos encontrei alguns links que eu preciso passar adiante.

L.I.V.R.O – Millôr Fernandes
Um texto do Millor recomendado pelo Marcus não lembro onde. Imperdível! Em tempos de Ipad, inteiramente apropriado.

A ideologia da propriedade intelectual: 
A inconstitucionalidade da tutela penal dos direitos patrimoniais de autor Artigo esclarecedor de Tulio Vianna sobre uma questão extremente atual. Em linhas gerais, Tulio indica que a propriedade não é uma condição dos objetos sobre os quais se pretende fazer valer a legislação que regula a propriedade. Indispensável.

Porque o PSDB está mudo – Luis Favre Esse texto não estava nos meus favoritos, mas agora está. Achei-o ontem, recomendado por Alon no Twitter. Apesar de reconhecer as possibilidades representadas em Aécio, ele aponta, sem meias palavras, o berço real do poder político do PSDB: a força financeira da classe média e alta paulistana — que mantém o partido refém de seu conservadorismo incorrigível.

O desmonte da blogosfera brasileira

Hermanauta abandonou o barco. Antes dele Idelber. A blogosfera pátria não repõem as perdas que sofre. É certo que muita gente boa começou a escrever nos últimos anos, mas lhes falta algo (mas não é uma falta que os diminua).

(Eu juro que andei pensando nos últimos dias, antes de saber da notícia da hibernação do Hermenauta, em pedir que ele fizesse um screencast do seu modus operandi. Porque eu sempre me considerei um usuário avançado de operadores de pesquisa e até tenho uma relativa habilidade, mas perto dos achados do Hermanauta eu pareço uma criança engatinhando. O sujeito entendia da coisa. Além de possuir uma memória absurda, coisa que, aliás, eu nunca terei. Enfim, esse é o domínio de certas técnicas e habilidades que um sujeito pode ter, e o Na Prática bem elencou as qualidades do novo papai.)

Mas, como eu disse, algo não se renovou. Quer dizer, não se trata tão somente de substituir pessoas talentosas e inteligentes. Essa boa gente que parte tem, além das sabidas qualidades, um certo poder agregador que é o diferencial. As qualidades dessas pessoas são exponenciadas pela capacidade centralizadora que os transformaram em pontos de amplificação do debate, em eixos de linhas de diálogo as mais diversas. Vejam as discussões do Idelber, ele pautava tanto as conversas de gente que o admirava, como era frequente ler, no blog de pessoas irmanada ao Tio Rei e ao Olavão, comentários nada lisonjeiros sobre seus posts. Para quem nunca entendeu a insistência em acompanhar o Tio Rei, Hermanauta fazia das suas constantes críticas apenas um expediente para apontar um certo um discurso político, muito em voga no Brasil, que não se vê obrigado nem mesmo a ser coerente — quem dirá verdadeiro. E fazia isso com elegância, objetividade e, especialmente, com espirituosidade. Parecia divertido ler aquelas asneiras e procurar, na memória e nos artigos, as contradições mal disfarçadas.

Desde que eu entrei na blogosfera aprendi o valor da objetividade. Com muita gente que, ainda agora, ou antes, sabe identificar e expôr o núcleo de um problema sem se comprometer com nuances que o tornariam desinteressante — coisa que um dia eu aprenderei a fazer. Aliás, que a maioria dos profissionais de filosofia deveria aprender. Mas, repito, o que eles deixam insubstituído é um certo espírito agregador, indispensável em tempos de eleição. Também a espirituosidade para lidar com as coisas sérias, tática mais que adequada para evitar problemas de pressão. Vamos torcer para que outros consigam cumprir essa função — não sei como funciona a coisa a lá fora, mas aqui havia e ainda há muita camaradagem entre as pessoas que se frequentam, isso é muito saudável e aumenta ainda mais a sensação de perda sempre que alguém deixa de escrever — ou para que os antigos, aposentados ou hibernantes, acordem do sono de inverno para novamente nos fazer companhia.

PS. Foi um desmonte tão bem orquestrado que eu penso que a diretoria do Corinthians está dirigindo também os rumos da blogosfera.

Ferramentas indispensáveis

Procurando um interessante programa de busca de arquivos baseado no Google, o Google Hacks, achei outras ferramentas que podem ser igualmente úteis.

O site Search Hacker tem a mesma função do programa só que não exige instalação.

E acima de tudo o livro Google Hacks (Tara Calishain, 443 p.), que pode ser encontrado através de uma simples busca pela palavra: hydracefallus. Não sei por que o cuidado em não apontar o atalho, mas desconfiado que sou, prefiro pecar por zelo ou ingenuidade a estragar de alguma forma o trabalho do benfeitor que tornou disponível a obra.

Algumas dicas são fantásticas. Por exemplo, vocês sabiam que a duplicação de uma keyword altera os resultados?

Busque por internet e depois por internet internet. Ainda que sejam palavras iguais os resultados se alteram; parece óbvio, mas como ferramenta conscientemente empregada pode trazer bons resultados. Para quem não domina os operadores básicos é igualmente esclarecer; cito alguns deles: OR, inurl, inanchor, site, intitle, etc. São muitos e realmente eficazes.

Talvez pareça algo inadequado esse tipo de conteúdo por aqui, mas é mera impressão. Na verdade a internet se tornou um meio seguro de aquisição de conteúdo cultural e Google uma ferramenta indispensável. Por exemplo, esses dias recomendei a um amigo o CD do Wilco, Sky blue sky, que eu considero um dos melhores lançados esse ano. Ele perguntou onde procurar e eu imaginei que não seria difícil encontrá-lo disponível em algum dos milhares de blogs que compartilham CDs. Achei sem dificuldade, cliquem aqui e confiram quantas referências podemos encontrar pela combinação de poucas palavras e um operador.

Além do mais, a inteira potência do Google nos empresta uma ferramenta polivalente que pode ser empregada para os mais diversos fins.