Mesmo aquilo que é ruim, aquilo não é bom, pode tornar-se familiar, de tal sorte que nos custe muito mudar. Isso quer dizer que potencialmente podemos nos acostumar a qualquer situação, por pior que ela seja. A dificuldade de mudar de pele consiste precisamente nisso: recusamos mesmo o bom quando não o reconhecemos como familiar, e voltamos aos velhos hábitos. Mudar é adaptar-se à instabilidade, aceitar a morte como inevitável e extrair disso uma ética, um modo de ser no mundo e na vida. Quando rejeitamos o estranho, precisamos de tempo para nos familiarizar até mesmo com o bom. Só quando somos também estranhos podemos aceitar o estranho, e o bem que ele pode trazer consigo. Certamente ele é o único que pode trazer o novo.
((Moral da história: nem todo familiar é bom, nem todo estranho é ruim))