Certa feita um primo me apresentou a essa que talvez seja uma das expressões mais engraçadas que eu já ouvi na vida, “bater o pau na mesa”, que significa manifestar força, de modo entre deliberado e espontâneo. Essa mescla de territorialidade e masculinidade é engraçada porque é profundamente verdadeira e fala de coisas arraigadas nos homens. E uma das razões porque Mad Men fascina é justo porque na série há muitas ocasiões em que algo aparentemente territorial e primitivo se estabelece no ambiente controlado de uma agência de publicidade.
O que permite que Don Draper aja de modo tão confiante (beirando o arrogante) é a certeza de que o seu “oponente” reconhecerá a verdade do que ele diz, e de que essa verdade importa para os negócios daquela pessoa. Nessa cena em particular, a discussão que importa é: o que as mulheres querem, o que elas desejam? E mais: quem pode dizer o que uma mulher deseja (autoridade)?
Ao recusar a proposta da campanha dirigida por Don, o cliente fez entender que as mulheres gostariam de muitas opções, de muito batons, e que a campanha não podia ser bem sucedida se mostrasse apenas um. Mas o que ele não sabia, e Don não se esquece disso, é que ele não estava ali na condição de autoridade capaz de avaliar o desejo das mulheres. No meio da sua resposta, Don atordoa a todos jogando uma piada: “Eu não estou aqui pra falar de Jesus…”. E é como se ele dissesse: “Eu estou aqui para falar sobre o que mulheres querem, para sugerir ideias que talvez interessem ao seu produto, ideias sobre como usar a minha expertise nesse campo a favor do seu negócio. Mas se você já sabe o que as mulheres querem, abra a sua própria agência de publicidade”. Don e todos na sua agência sabem que é ele quem conhece as mulheres, e que o seu conhecimento da alma feminina é o que o torna capaz de sacadas como as que ele apresenta na cena. As mulheres querem escolher, ter opções, mas querem sobretudo sublinhar a singularidade das suas escolhas, distingui-las das escolhas das demais; querem ter uma propriedade e poder dizer às outras mulheres: “isso é meu e não seu!”. A bem conhecida relação entre a propriedade privada e o poder, o chauvinista Nietzsche já apontava isso antes de Don Draper.
É curioso constatar que numa das cenas em que Don Draper aparece o mais confiante possível, batendo o pau na mesa, ele em realidade esteja se pavoneando pelo fato de conhecer o que querem as mulheres e de poder criar um business que tem esse fato como base. Mad Men é também uma série sobre mulheres, sobre a via crucis das mulheres num mundo dominado pelo desejo masculino.