Uma cultura de respeito à mulher não implica que cada beijo tenha que vir antes precedido pela pergunta: “Posso te beijar? Por favor, manifeste o seu consentimento verbalmente” — isso é ridículo. Em certo sentido, grande parte dos beijos são beijos roubados, pois supõem uma aposta (e um risco) sobre o desejo do outro, aposta que, naturalmente, não está imune ao erro. Não se trata de transformar todo homem num robô obrigado a seguir a regra: “não se deve fazer nada com as mulheres sem o seu expresso consentimento”, se trata de construir nos homens uma sensibilidade com respeito às mulheres de tal modo que eles saibam quando ou se roubar um beijo.
Quando se acredita tão cegamente na intimidação e na punição como instrumentos de transformação social fica difícil fazer entender certas zonas de sombra, zonas especialmente ligadas ao sexo (desejo), como o lugar do poder e do que poderíamos chamar de invasividade. Mas quem pode negar o papel desses elementos?