Há poucas coisas mais bonitas do que a disposição a servir que não é serviçal, que não perde a dignidade, porque desse modo essa disposição é dádiva. E há alguma coisa de simplesmente divino nela. Que sorte é já ter encontrado na vida pessoas assim. Em bom baianês — orgulhosamente vulgar e debochado —, eu diria que essa disposição é (a vontade de && a abertura para)
ser puta dos outros. Ou putinha! Eu mesmo sou putinha de muita gente. Uma das maiores contribuições de Salvador* para a história universal é esse bonito gesto em favor de que se remova o estigma do conceito de puta. Como se pode tirar o estigma de um conceito? Dando a ele outro uso! É o uso (Praxis) que define o valor da norma, da regra, do conceito (da parte normativa) da linguagem.
PS. Meu professor Milton Moura me ensinou que há significativas diferenças identitárias entre as pessoas de Salvador e do recôncavo baiano, assim, em nome da precisão e do rigor, eu devo marcar a diferença entre o baiano (categoria geral) e o soteropolitano (subclasse do baiano), e dizer que isso é provavelmente coisa da galera de Salvador. É coisa nossa!
Discordando aqui desse conceito de baiano.
Baiano é quem nasce em Salvador e no recôncavo — com as devidas diferenças que seu professor apontou — e talvez aquela região de Ilhéus, com muito boa vontade. O resto é outra coisa. É goiano se nasce em Barreiras, é sergipano se em Jeremoabo, capixaba se lá para baixo de Itamaraju.
E essa conversa de soteropolitano é viadagem de axé music.
Rafael, eu não meto meu bedelho nessa discussão por falta de conhecimento. Mas é curioso como essa divisão identitária pode se estender ad infinitum, por exemplo, dentro de Salvador há claramente uma divisão entre as pessoas que conhecem/frequentam a cidade baixa e as que não. Isso marca muito a vida das pessoas e faz muita diferença. Talvez hoje, 10 anos depois d’eu ter deixado Salvador, as coisas sejam diferentes, mas naquele tempo era muito clara essa diferença.
Eu morei pouco mais de 1 ano em Belmonte, sul da Bahia, perto de Canavieiras, e acho que eles tão aí nessa zona em que cê colocou Ilhéus, não são baianos no sentido de pertencerem à identidade de Salvador e do recôncavo, mas ainda não são mineiros nem goianos.