Na sociedade capitalista a ideia de pluralidade, tão cara ao ideário liberal, raras vezes significa a pluralidade do ser, mas a do parecer. Assim se expressa a necessidade de individualização, de diferenciação estética, de singularização da aparência e do modo como se é percebido, mas essa diferença não se expressa com a mesma força nos valores e ideias que animam as ações. (Acho que não é necessário lembrar o papel do capitalismo nesse predomínio do meramente aparente). Se pudéssemos quantificar o aprofundamento das diferenças do ser e do parecer ao longo do tempo, e compará-las, veríamos que a contínua diferenciação estética não acompanha diferenças significativas de ideias, fazendo com que a aposta liberal na pluralidade nunca de fato leve água pro moinho dos melhoramentos que poderiam ter lugar na sociedade humana se nós efetivamente pensássemos de modo diferentes e se fossemos abertos às diferenças de pensamento. Para que a pluralidade produza efeitos mais que aparentes seria necessário construir uma outra relação com a estabilidade.