Porém, difícil sustentar opinião favorável quando confrontamos a posição da Folha em relação às três versões do PNDH. A terceira versão, lançada pelo presidente Lula no final do ano passado, tem como base as versões anteriores e pouca coisa se altera significativamente. No entanto, as alterações, por menores que sejam, foram o suficiente para disparar uma mudança completa de avaliação por parte do jornal — os leitores de Nassif observaram.
Ou ainda quando consideramos a conduta frequente do Estadão, como a de hoje, externada num editorial que é, quando menos, desrespeitoso. Ele começa assim:
Vem aí mais um ataque à liberdade de informação e de opinião, preparado não por skinheads ou outros grupos de arruaceiros, mas por bandos igualmente antidemocráticos, patrocinados e coordenados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
E continua:
A 2ª Conferência Nacional de Cultura, programada para março, foi concebida como parte de um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário.
Psicologia do mais alto grau. Mas a coisa não para por aí:
O texto-base da conferência poderia figurar num museu de teratologia política, como exemplo do alcance da estupidez humana.
É um festival de estultices sem par. Argumentos nenhum. Aliás, nem isso posso dizer, pois não passei do segundo parágrafo. Meu estômago é fraco. Poderia bem ilustrar o caso da falta de talento para argumentar, mas o texto não pretende ser um argumentação, ele é antes uma peça de intimidação, uma conclamação à revolta diante do que se diagnostica como um atentado à democracia. Ele quer menos ser um objeção racional, do que uma virulenta doutrinação à maneira das mais descabidas imposições da igreja. É uma peça que não deixa lugar para o contrário — e, ainda sim, pretende-se um instrumento democrático. Curioso que os mais empedernidos defensores da democracia, no Brasil, não se sintam obrigados a admitir a pluralidade de ideias que supostamente advogam.
É difícil não condenar, não militar contra uma imprensa tão rancorosa, ainda que reconheçamos as personalidades singulares e competentes que permeiam os ambientes jornalísticos os mais diversos (como o próprio Pedro Doria, no Estadão). É insensibilidade e passividade lesiva admitir que tais gestos de violência se mascarem de práticas democráticas. A parcialidade é o menor dos males da imprensa brasileira, seus maioroes vicio são a desonestidade e a dissimulação com que recobrem seus reais interesses.