Muito além da parcialidade

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Eram frequentes, antes de Idelber parar, os debates entre ele e Sergio sobre a postura da imprensa diante das ações governo (por conta da insistência de Idelber em denunciar a parcialidade desonesta da Folha). Apesar do tom amistoso, às vezes a coisa faiscava. Compreensivelmente, Sergio defendia a classe, buscando resgatar da generalização os muitos profissionais comprometidos com a verdade e de postura irrepreensível. Idelber sempre reconheceu os profissionais respeitáveis que povoam os diversos canais de comunicação, mas nem por isso deixou de afirmar que eles não eram bastantes para mudar o comportamento dos grandes grupos em relação ao governo — e nisso nós concordamos, a crítica à imprensa em geral não é uma crítica a todos os seus profissionais, além disso, ela não é indiferente às exceções, seja quanto às empresas de comunicação propriamente, seja quanto aos profissionais que nelas trabalham.

Porém, difícil sustentar opinião favorável quando confrontamos a posição da Folha em relação às três versões do PNDH. A terceira versão, lançada pelo presidente Lula no final do ano passado, tem como base as versões anteriores e pouca coisa se altera significativamente. No entanto, as alterações, por menores que sejam, foram o suficiente para disparar uma mudança completa de avaliação por parte do jornal — os leitores de Nassif observaram.

Ou ainda quando consideramos a conduta frequente do Estadão, como a de hoje, externada num editorial que é, quando menos, desrespeitoso. Ele começa assim:

Vem aí mais um ataque à liberdade de informação e de opinião, preparado não por skinheads ou outros grupos de arruaceiros, mas por bandos igualmente antidemocráticos, patrocinados e coordenados pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

E continua:

A 2ª Conferência Nacional de Cultura, programada para março, foi concebida como parte de um amplo esforço de liquidação do Estado de Direito e de instalação, no Brasil, de um regime autoritário.

Psicologia do mais alto grau. Mas a coisa não para por aí:

O texto-base da conferência poderia figurar num museu de teratologia política, como exemplo do alcance da estupidez humana.

É um festival de estultices sem par. Argumentos nenhum. Aliás, nem isso posso dizer, pois não passei do segundo parágrafo. Meu estômago é fraco. Poderia bem ilustrar o caso da falta de talento para argumentar, mas o texto não pretende ser um argumentação, ele é antes uma peça de intimidação, uma conclamação à revolta diante do que se diagnostica como um atentado à democracia. Ele quer menos ser um objeção racional, do que uma virulenta doutrinação à maneira das mais descabidas imposições da igreja. É uma peça que não deixa lugar para o contrário — e, ainda sim, pretende-se um instrumento democrático. Curioso que os mais empedernidos defensores da democracia, no Brasil, não se sintam obrigados a admitir a pluralidade de ideias que supostamente advogam.

É difícil não condenar, não militar contra uma imprensa tão rancorosa, ainda que reconheçamos as personalidades singulares e competentes que permeiam os ambientes jornalísticos os mais diversos (como o próprio Pedro Doria, no Estadão). É insensibilidade e passividade lesiva admitir que tais gestos de violência se mascarem de práticas democráticas. A parcialidade é o menor dos males da imprensa brasileira, seus maioroes vicio são a desonestidade e a dissimulação com que recobrem seus reais interesses.

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