Aqueles que não queremos ver

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O Estadão publicou ontem uma entrevista com o antropólogo Daniel De Lucca Reis Costa envolvendo seu estudo sobre moradores de rua. A matéria me fez lembrar um post de Marcus sobre a relação dos moradores de São Paulo (ou de parte deles) com o espaço público. Vale a pena ler os dois textos.

A entrevista, em especial, discute o que se tem feito, o comportamento das autoridades públicas frente à questão e, de algum modo, também o da população. O resultado é algo sombrio: os moradores de rua são um problema que queremos evitar pela sua simples remoção do nosso espaço visual. São problemas na medida em que emporcalham as ruas, fumam, bebem e, às vezes, tornam-se violentos ou criminosos. Como consequência, as políticas públicas refletem esse tratamento horizontal e rasteiro: concentram-se exclusivamente na disponibilização de albergues. A diversidade de motivos que concorre para a opção de morar na rua (temporária ou definitivamente) acaba assim limitada ao tratado de um único problema: esconder aqueles que não queremos ver. Se pensarmos bem, o problema da criminalidade e da violência também é enfrentado segundo esse mesmo modelo. Queremos uma solução, uma solução preferencialmente rápida e sem grandes custos: prender ou matar.

O Brasil continua sendo o país dos atalhos. Precisamos entender que não há vias facéis e curtas, que a mudança só virá com integração e compromisso — e não com segregação. Que a política é o canal da mudança.

Mas como parece forte a tentação de olhar para o lado!

Se vocês quiserem podem ainda baixar a dissertação defendida por Daniel na USP

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