Geddel: o novo cacique da Bahia?

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Geddel, sucessor de ACM?

O novo cenário pós eleições confirma alguns dos meus juízos. Primeiro, a direção nacional do PT (e particularmente o presidente Lula) “vendeu” algumas cidades e isto custará caro aos seus moradores — digo isso genericamente, mas ao menos em Salvador a coisa é real. Segundo eu penso, é imensa ingenuidade do PT acreditar — ou pelo menos partir dessa crença — que em 2010 o partido contará com algum aliado significativo, como PMDB, por exemplo (não quero dizer que isso não pode acontecer, apenas que seria melhor que o PT considerasse, para fins estratégicos, essa possibilidade como remota). Seria prudente da parte dos estrategistas do partido assumir um panorama “todos contra um”, assim teriam organizado as forças municipais de outra forma e feito menos concessões ao PMDB. Agora, está mais do que nítido o interesse de parte do PMDB em mudar de lado — as moléculas do PMDB são das coisas mais instáveis da natureza — além do conflito de interesses que se desenha, por exemplo, quanto ao caso do Governo da Bahia, um estado estratégico. Resultado: o novo esquema que se define diante desses conflitos torna a afirmação do apoio do PMDB aos interesses do PT algo improvável e por isso mesmo uma variável que não pode ser inserida nos cálculos de uma estratégia que se pretenda vitoriosa.

Na Bahia as coisas aconteceram de modo especialmente preocupante. Lula não veio, confiante no apoio do PMDB em 2010, enquanto isso João Henrique atacava covardemente o seu partido. Como ficaram as coisas no final das contas? Aqui estão os problemas: (i) críticas ainda que infundadas atingem sua meta se os eleitores não forem capazes de depurar seu conteúdo e, sobretudo, se denunciante contar com algum trunfo (realizações políticas) para contrapor à atitude denunciada. (ii) O PMDB (e Geddel como seu maior representante no estado) tem três fortes pilares que o colocam, talvez, numa posição estrategicamente melhor que a do PT para as eleições estatuais de 2010, (a) Geddel compõe sua força no interior da Bahia à maneira carlista, arrebanhando uma legião de prefeitos que se constituirão como fortíssimos cabos eleitorais (Geddel privilegia prefeitos do PMDB da Bahia: o ministro Geddel Vieira Lima (Integração Nacional) beneficiou as prefeituras baianas do PMDB, seu partido, na partilha dos recursos da pasta que comanda. As cidades governadas pelo PMDB receberam 87% de todos os recursos liberados por meio de convênios firmados pela pasta com prefeituras baianas). Essa sempre foi a força do carlismo, visto que Salvador costuma se colocar mais à esquerda. (b) Se o ministro conta com uma estratégia tipidamente carlista, sua atuação, porém, é visivelmente sofisticada, uma vez que ela se realiza à sombra da imagem de Lula, isto é, com o consentimento do presidente, como se estivesse agindo em seu interesse. A pecha de “carlista”, portanto, não adere tão facilmente a sua figura, mesmo em Salvador — veja o caso dessa eleição. Aliás, em Salvador o carlismo do PMDB fica mais evidente. Façamos então uma nota: não é a aliança provisória com ACM Neto que fez do PMDB carlista, não se trata de uma mera etiquetagem, mas um certo modo de proceder que caracteriza os grupos de interesses próximos ao nosso antigo cacique. Isso fica caracterizado no PDDU, um plano claramente dirigido a um grupo que sempre esteve a frente no carlismo: o setor imobiliário. É essa proximidade com os herdeiros de ACM que faz do PMDB uma grande ameaça a recente conquista dos baianos, e uma ameaça não meramente possível, mas efetiva para os soteropolitanos. Nos próximos anos sentiremos na pele os efeitos de uma administração voltada aos interesses imobiliários, com independência do uso racional do solo1. (c) Embora o PMDB componha a base do governo estadual, é óbvio que os aspectos negativos do governo não se fixam no partido do governador do mesmo modo que na base aliada. Ainda que um rompimento se consume em 2010, a imagem de Lula e Geddel já terá sido bem fixada, enquanto que os aspectos negativos do governo estadual estarão apenas no colo do PT.

O Partido dos Trabalhadores conduziu muito mal as eleições municipais em Salvador e estrategicamente, em âmbito nacional, errou feio. Perdeu a chance de afirmar seu poder num dos poucos estados em que a profecia convenientemente alardeada (pela oposição) de que “Lula conveteria sua popularidade em votos” poderia se materializar, enquanto investiu em estados como São Paulo, onde claramente essa expecativa não se realizaria. O resultado é que a oposição soube se valer dessas condições, imputando ao PT e ao presidente uma derrota (de forma absolutamente legítima, diga-se de passagem). Assim, em 2010, o PT ameaça não ter tanta força política no estado, além de não contar com o apoio do PMDB para cumprir seus interesses nacionais. “Quem tudo quer, tudo perde”, faltou a sabedoria dessa frase ao PT. A consequência de tudo isso, segundo meu juízo, é a ascensão possível de um novo cacique, agora ungido pela popularidade do presidente: Geddel. Uma cobra no ninho.

Se os episódios recentes — o comportamento frente do caso Daniel Dantas e agora nas eleições municipais — tem abalado a imagem do presidente que eu cultivava, o governador Jaques Wagner, no sentido contrário, subiu no meu conceito. Sua postura foi a mais correta. Agiu como convinha, com a força necessária e, acima de tudo, manteve a convicção após o sufrágio. Abaixo declarações do governador em entrevista ao Política Livre que merecem ser lidas e que ilustram bem todo o cenário que discuti:

Wagner: “Tudo que João Henrique precisou, eu fui lá aportar”
Wagner: “Na medida que me desqualificaram, João e o PMDB romperam comigo o acordo de respeito mútuo”
Wagner: “João Henrique fez campanha insidiosa e retrógrada”
Wagner: “(Tem gente) achando que não sei que caneta que eu tenho”
Wagner: “Não ataquei. O que fiz foi responder”

Entre Lula e Wagner, estou com Wagner!

1 A Secretária de Planjemanto do município, Kátia Carmelo, principal articuladora da aprovação do polêmico PDDU na Câmara Municipal (sic) corre o risco de ser presa porque foi acusada de descumprir a ordem judicial que impede a execução de obras autorizadas pelo PDDU. Aí está um sintoma claro da cega avidez de alguns grupos a que eu já me referi; qualquer pessoa, como eu também já mencionei, pode notar as mudanças que a cidade sofreu/sofre desde antes da aprovação do Plano. Um sinal claro da irresponbilidade que marcará os próximos 4 anos de gestão municipal.

PS. Não sou especialista no assunto, mas para mim ficou clara a superioridade tática da campanha de João Henrique. No primeiro turno, a organização do PMDB soube salientar as poucas realizações do prefeito de sorte a desfazer a imagem ruim que todos tinham dele e, na transição do primeiro para o segundo turno, se serviu bem do ataque que os candidatos endereçam a ele, vestindo-se de vítima, perseguido. No segundo turno foi uma lavada, a campanha petista demorou para agir e quando entrou no jogo arriscou ser taxada de desesperada — o que de fato aconteceu. É o caso então de ficar de olho no tal Maurício Carvalho.

Atualização 1: Com 114 Prefeituras e o Ministério, Geddel terá um “pibinho” para gastar de $ 16 bi, diz Veja. Outra referência para pensar a composição do cenário.

Além disso, sugiro a leitura de dois outros posts n’A Torre de Marfim: PMDB, a nossa mais perfeita tradução e Homens vazios

Atualização 2: Geddel diz que PMDB baiano vai trabalhar por aliança com Lula, mas admite conversar com Serra e Aécio. Alguém se surpreende?

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