Eu me considero uma pessoa vingativa. Isto é, sempre que penso o que faria com qualquer um que ferisse uma pessoa amada sem esforço minha imaginação transforma o Malleus Maleficarum numa cartilha de boas maneiras. É naturalmente compreensível o desejo de ferir e magoar quem quer que tenha ferido e magoado as pessoas que estimamos. E a lei reconhece isso, ou seja, as atitudes motivadas...
Precisamos de médicos cubanos
A internet oferece muitos textos e opiniões para quem quer refletir honestamente sobre a posição do Conselho Federal de Medicina e de alguns profissionais sobre a vinda de médicos estrangeiros. Quem prefere guardar cegamente uma posição continuará papagaiando os rasos pronunciamentos das entidades de classe. Aqui farei apenas um apanhado dos principais argumentos, temperando com poucas...
O impossível
Os gênios da economia no Twitter logo saíram a proclamar que a ideia do Passe Livre é sem cabimento, impossível. Cada um tem o seu impossível pessoal. Se fossem urbanistas talvez dissessem que impossível é projetar cidades capazes de absorver o crescimento do número de veículos a taxas atuais, impulsionado pelo investimento maciço em transporte privado e pela aposta de que o setor automobilístico...
O mito da realidade fática (ou do fenômeno natural)
No bom texto em que explica a constitucionalidade da decisão do CNJ sobre o casamento igualitário, Pádua Fernandes apresenta também um argumento costumeiramente empregado para justificar o congelamento do conceito de família: […] a família é um fenômeno essencialmente natural – sociológico, cujas origens antecedem o próprio Estado. É dizer: família é uma instituição pré-jurídica...
O nascimento do “normal”
Li há poucos dias a polêmica entre o ator Alexandre Nero e uma das suas seguidoras no Instagram. A garota escreveu o seguinte: Quero ver quando você estiver com teus filhos em um restaurante e tiver 2 gays se beijando.. Alias, todas as pessoas que pregam a favor disso! Vc vai conseguir aceitar e explicar aos teus filhos o quão normal isso eh? De verdade? Sem hipocrisia! O conceito de normal é o...
As paixões e o consumo
As paixões são um ponto nevrálgico da cultura grega. Na impossibilidade de dominá-las, os estoicos professavam a apatia (lembremos da matriz comum de apatia e paixão, pathos). Não parece haver melhor resposta a estes componentes ubíquos do que uma cultivada indiferença aos seus encantos. O intuito de engendrar uma disposição capaz de solapar a força das paixões atesta o esforço para reduzir a...
O voto nulo
O voto nulo tem uma ambiguidade característica que talvez explique tanto seu poder atrativo quanto a repulsa que causa. Talvez a informação acima ajude algum eleitor indeciso. Por um lado há um aspecto simbólico forte (embora não necessariamente eficiente) ligado ao desinteresse pela classe política, à reprovação das atitudes e ações de parte dos representantes políticos eleitos até hoje. Nesse...
O PT e o perigo de lutar com monstros
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você.” Nietzsche, Além do bem e do mal, § 146. Na internet, muitas pessoas manifestaram enorme surpresa ao ver a foto de Lula e Maluf cumprimentando-se amistosamente. E por isso sofreram (não sem alguma razão) com comentários...
Salvador não tem nada pra fazer. Ponto!
Não dá pra levar toda declaração ao pé da letra. “Salvador não tem nada pra fazer” não é o tipo de afirmação que se falseia saindo à noite para constatar que de fato a cidade oferece opções e, numa mesma noite, até alternativas (como se propõe a fazer o vídeo abaixo). A afirmação é quase expressiva — e o resíduo informativo que sobra é parte injusto, (mas) parte verdadeiro. Injusto porque...
O que é “subjetivo” para o judiciário brasileiro
O Supremo Tribunal de Justiça decidiu que testemunhos e exames clínicos não valem como prova de embriaguez em processos criminais sob alegação de que existindo meios objetivos de se aferir a embriaguez, estipulados pelo próprio Executivo — o bafômetro e o exame de sangue –, “não se admite critérios subjetivos”. Não se trata de uma questão legalista, a objeção não se deve à ausência de...
