Um pensamento me acordou. Literalmente, eu juro! Ele veio e eu fiquei com medo de perdê-lo, e despertei. Não importa se o pensamento tem valor ou não, o que importa é que algo tão etéreo quanto um pensamento foi capaz de despertar meu corpo, minha consciência, acender toda a máquina, apertar o botão ON. Isso diz algo sobre o meu sono, meu ritmo. Sobre o meu não conseguir estar inteiramente...
Parada Gay: um poderoso símbolo da sexualidade masculina
Todo homem deveria agradecer por ser homem, ou seja, por não ser mulher, ser homem é um privilégio e não são poucas as vantagens. O que talvez surpreenda um ou outro é que a Parada Gay seja um dos melhores lugares para constatar os privilégios masculinos, além de ser um símbolo do masculino muito mais forte do que aqueles ostentados por nerds vestidos de guerreiros ou com fantasias medievais. Nas...
O outro eu que eu tenho sempre próximo
O Livro do Desassossego é desconcertante, os temas passeiam nele amarrados por um elo quase invisível. E as coisas que surgem assim, quase ex nihil, são frequentemente focos de reflexões profundas que, hoje em dia, poderiam alimentar teses e mais teses de doutorado. Tudo está ali apresentado como coisa aparentemente casual, amealhada distraidamente. Vejam esse parágrafo onde Bernardo Soares...
A verdade não importa! Sexo e post-truth
A lição mais direta, incontornável e desconcertante que o sexo nos dá é: a verdade não importa! É uma lição que aponta para um comentário igualmente embaraçoso de Zizek: fazer sexo é masturbar-se com o corpo dos outros. Os homens não se importam que as mulheres finjam ter prazer, contanto que eles não saibam. Bem, tampouco é como se os homens fossem especialistas em identificar autenticidade e...
Por que bons argumentos não importam?
Por que as pessoas não mudam de opinião mesmo quando ouvem bons argumentos e/ou fatos que contrariam suas crenças? Bem, primeiro, porque fatos importam muito menos do que creem os cientistas (e os realistas em geral). Mas o mais importante é: porque a psicologia é o centro da vida simbólica humana, não a lógica. E a vontade é o único fator que determina o colapso ou a manutenção de sistemas de...
Cosmopolita tendencioso: sobre patriotismo e nacionalismo
Cosmopolítica relativista (e tendenciosa) Nasci em São Paulo, me criei na Bahia (a Bahia me deu régua e compasso), mas não sou nacionalista nem patriota. Se eu me apresentasse assim a todas as pessoas, dizendo que não sou nacionalista nem patriota, quanta confusão não causaria. Não apenas porque as pessoas não gostam de discutir nada — elas gostam de sentenciar e esperam ansiosas uma validação...
Promessas da cidade: Madrid
Em 2013, poucos dias depois de haver chegado em Madrid, vi uma imagem que ficou na minha cabeça: uma senhora sentada em sua cadeira motorizada, lendo um livro na rua, embaixo da marquise de um prédio na Calle Luchana. Essa imagem mostra de modo claro a importância da rua para os espanhóis e particularmente para os madrilenhos. Por isso a pandemia foi um tremendo choque para a sociedade espanhola...
Acreditar em Lúcifer? O Diabo pode dizer a verdade? O Jesus de Martin Scorsese
Eu nunca li o livro A última tentação de Cristo, de Nikos Kazantzakis, mas vi o filme de Martin Scorsese e gosto muito dele. O Jesus de Scorsese é quase tão bonito quanto o Jesus de Fernando Pessoa, o meu Jesus preferido. Numa das cenas do filme, falando com Jeroboão (?), Jesus lhe diz: — Lúcifer está dentro de mim! Ele me diz: “Você não é o filho do rei Davi, você não é um homem. Você é o...
O plural da identidade
Toda identidade define um lado de fora e assim se determina aquilo que não lhe pertence. Mas há muitas identidades, de tal sorte que não raras vezes pessoas postas em lados distintos segundo uma identidade mais adiante se reconciliam sobre o eixo de outra. Este pântano de abstração se ilumina com uma mais-que-oportuna consideração de Freud. Em O Mal-estar na Civilização, a hostilidade em relação...
Tolkien e a corrupção pelo poder
Naqueles que o detém, o poder provoca quase inevitavelmente uma espécie de degeneração, algo que se pode chamar de corrupção pelo poder. A expressão me parece auto-explicativa, mas ainda assim admite, como qualquer expressão da linguagem, um novo modo de ser ilustrada, uma nova apresentação. A variedade de expressões de um conceito muito geral, como é o caso no conceito de poder, às vezes...