Quando se chocam dois princípios que não podem ser reconciliados, cada homem declara o outro um tolo e um heregeWittgenstein, Sobre a certeza, § 611. Em certo sentido Einstein não aceitou as consequências da mecânica quântica, a abolição do carácter determístico do mundo (da realidade). É não apenas permitido não aceitar os sentidos e as verdades do outro — isso é inevitável! O intolerante, no...
Nossas paixões ou nossas ações nos definem?
De maneira geral há dois tipos de pessoas: aquelas que se definem pelo que fazem (por suas ações) e as que se definem pelos que sentem, por suas paixões (independente do que façam). Há pessoas que se consideram corajosas porque agiram com coragem em muitas circunstâncias da vida e pensam que por isso a coragem é uma marca característica de suas ações. Outras, no entanto, pensam que uma pessoa...
Duas maneiras de ver Birth
Recomendo que vocês o assistam antes de ler o texto, pois o filme está descrito quase integralmente na postagem. Birth (traduzido no Brasil como “Reencarnação”) foi dirigido por Jonathan Glazer, diretor de Under the Skin e de Sexy beast, filme que muita gente tem em alta conta. O filme me encantou porque apresenta uma clara tensão filosófica. Bem, se não filosófica, ao menos algo que...
Preconceitos intelectuais
Umberto Eco é respeitado o suficiente para nos oferecer um tipo de honestidade rara, a de confessar o papel dos livros não lidos no quadro de ideias dos intelectuais. Ler essa confissão é algo quase libertador, em especial para alguém que como eu se vê incapaz de devorar livros com a voracidade com que tantos o fazem, para quem passa de um livro a outro numa morosidade embaraçosa. Quando não...
A cultura da influência
O post também poderia se chamar o paradoxo dos especialistas. Em filosofia, os especialistas, pesquisadores especializados em autores e/ou temas em certos autores, são muito importantes. Eles acabam estabelecendo leituras, quase como doutrinas ou jurisprudências. E naturalmente o recurso à leitura de especialistas acaba virando um aspecto importante da própria pesquisa acadêmica. Quando o recurso...
Denunciando intenções
O nascimento da razão Quando estão discutindo ou conversando as pessoas tendem a identificar intenções e a usá-las como parte de seu próprio discurso. Por exemplo, a intenção de quem escreve um texto pode ser mobilizada contra o autor. Wittgenstein disse coisas curiosas sobre intenção, dentre elas, que um gato espreitando um pássaro é a expressão natural de intenção. A intenção pode até mesmo ter...
Nietzsche estava errado
Aviso que já sei — e estou de acordo — de todas as críticas nietzscheanas a noções unificadoras e agregadoras como sujeito, alma e o escambau. Já até transcrevi aqui uma das minhas expressões preferidas. O que me interessa, agora, no entanto, é outra coisa, é a fofoca pseudofilosófica psicologizante. Estou falando das razões (ou não) à crítica ao autoconhecimento. Porque nisso, bem, nisso...
O mito do dado: o ideal e o possível
O mito do dado persiste em muitas outras área, além da epistemologia. Na política sua força ainda é incrível. Quando distinguem entre o ideal e possível, muitos não se dão conta de que a distinção já é uma operação política (e ideológica). Esquecer a dimensão construtiva dessa diferença produz não apenas o engessamento das possíveis ações políticas, mas também oferece a justificativa...
Chantal Mouffe e o paradoxo democrático
O livro de Chantal Mouffe, The democratic paradox, é incrivelmente bom. É incrível também quanta tinta é gasta ainda elocubrando e desenvolvendo perspectivas claramente apoiadas em posições universalistas e racionalistas — mesmo após o sem número de pensadores que, no século passado, apresentaram críticas incontornáveis, em todos os terrenos possíveis (da antropologia à lógica), à metafísica...
Trabalho: um mal a ser evitado
The modern phenomenon of nonsense jobs: In 1930, John Maynard Keynes predicted that, by century’s end, technology would have advanced sufficiently that countries like Britain or the United States would have achieved a 15-hour working week. There’s every reason to believe he was right. In technological terms, we are quite capable of this. And yet it didn’t happen. Instead...