Se as pessoas amassem apenas o necessário para satisfazer seus amores, não haveria amor suficiente no mundo. Para que exista amor no mundo é preciso quem ame mais e muito, quem deixe a marca do ridículo. Ridículas são as pessoas que se permitem ferir-se pelo amor por tempo o bastante para que sua pele se transforma numa couraça, e então amar e confiar nos outros se torna cada vez mais fácil. (Ser...
Ode ao conformismo e à estabilidade
spoilers. spoiler e mais spoilers de Past Lives Vi o trailer de Past Lives em maio (o filme foi uma sensação no festival de Berlim) e esperei ansioso até agosto para assisti-lo. Mas depois que assisti, confesso que fiquei um pouco decepcionado. O filme é bonito, bem feito, a fotografia de Seul é linda, mas não gostei do modo como a premissa foi realizada (o que não significa que o filme seja...
A necessidade da palavra. A palavra como criação
O amor é uma palavra, um conceito da linguagem que a gente usa para falar de algo no mundo, para permitir ver e falar sobre algo no mundo. A precisão do conceito, a definição ou a semântica da palavra não são tão importantes quanto o modo como ela é usada, e que atos e práticas a acompanhem. O amor pode se tornar uma palavra vazia, se não acompanha atos de amor. Por outro lado, os atos de amor...
Fraternidade de Caim
Ainda nos resta muito tempo antes que possamos dizer que vencemos o fascismo e tudo que ele representa. Vencer o fascismo significa superar as condições que o fazem medrar, que o alimentam e o fazem crescer dentro do corpo social. E uma das razões por que é tão difícil extirpar o fascismo se mostra na ética bolsonarista. Os bolsonaristas, como exemplares de um gênero do fascismo, empunham com o...
Amor é coisa do corpo
Para a minha cheirosa… O amor é coisa do corpo, lição da filosofia de Carlos Drummond de Andrade. Ou de Manuel Bandeira? Aqueles que se importam com a posse e com a autoria que decidam quem é o autor da lição. Eu prefiro suspender o juízo e apreciá-la como algo de todos; aprendizado oriundo dessa comunidade — manifesta frequentemente em poetas e loucos (morbus sacer) — que é subterrânea e...
A amizade nos ensina a sentir o Real e a ser quem somos
Como boa parte dos animais, o ser humano é compelido a imitar desde o princípio da sua vida. Sua capacidade de aprender depende do sucesso em repetir o que fazem os outros seres humanos. A triste realidade é que não há garantia de que a força da imitação será combatida uma vez que ela tenha cumprido seu papel, o ser humano não é obrigado a ser autônomo, a pensar por si mesmo, a emancipar-se das...
O espírito é apenas um
Não tem sentido estender a noção de individualidade ao reino espiritual, o espírito é apenas um. Nossa alma? Nossa alma é a alma do mundo. Talvez quando nos olharmos nos olhos possamos ver algo aí dentro, reconhecer essa coisa. — Nós mesmos? Não, outros como nós. E nos reconhecendo outros talvez possamos lembrar que não devemos temer a nós mesmos. E o feitiço tramado pelo medo se quebrará. Não há...
Por que soa ingênuo falar de amor?
Essa imagem é uma comédia! Não há quem possa negar a capacidade mobilizadora do ódio, especialmente na triste circunstância em que nos encontramos, cercados por bolsonaristas. No entanto, mesmo entre soi-disant cristãos, falar de amor parece ingênuo, pois é como se estivéssemos convidando alguém a tomar parte do universo dos ursinhos carinhosos. A crítica da ingenuidade é parte fundamental das...
Encontrar os outros
Não é preciso estar só para desejar encontrar os outros. Sempre tive bons amigos e amigas e mesmo assim tinha também a vaga aspiração de encontrar pessoas como eu. Que merda é essa, “pessoas como eu”? — Eu não saberia explicar! Não é como se eu tivesse uma lista de critérios, ou como se existisse uma identidade comum que eu pudesse apresentar quando perguntado, era mais como a ideia...
Che Guevara e minha misantropia
Há coisas que nós sabemos, mas que só reconhecemos completamente quando falamos ou escrevemos sobre elas. Talvez porque as tenhamos sempre diante dos nossos olhos. Precisamos externalizá-las, torná-las objetos exteriores que podem ser manipulados com o olhar e o pensamento — algo independente de nós. Foi o que aconteceu com minha misantropia. Nada mais familiar do que meu ódio pela humanidade...