É difícil desvencilhar-se da tendência a imitar e repetir, ou seja, é difícil descobrir quem se é quando tudo nos empurra a ser como os outros. A amizade é um espaço de experimentação. Enquanto em outros ambientes, e mesmo em torno da família, estamos seguindo papéis e obedecendo o que se espera de nós, a amizade cria um campo inédito onde paulatinamente nos sentimos à vontade para ser quem nós somos.
Se não chegamos a nos sentir à vontade perto de outros seres humanos, dificilmente encontramos coragem para expôr quem nós somos. E com o tempo, a máscara adere ao rosto e já não encontramos nosso caminho até nós mesmos. Na era do identitarismo, a única identidade que verdadeiramente importa é uma anti-identidade, é o estranho. O estranho é uma espécie de coringa das identidades, enquanto estranhos podemos ser qualquer coisa, e admitir qualquer coisa. Nesse sentido, o estranho, diferente da identidade, ao invés de permitir a estabilidade e a união dos iguais, nos familiariza à instabilidade e a mudança, e nos abre ao desconhecido, ao diferente, ao outro. Junto aos amigos nos sentimos à vontade para ser estranhos e precisamos sê-lo.