O burro e o louco

O
Só o atleta, o alpinista bolsonaro, é capaz de escalar (e viver) na hostil atmosfera do Monte da Estupidez.

É triste a sina do Brasil. Há tanto tempo nós olhamos uns aos outros sem generosidade, com impaciência e irritação, que já não podemos ver o que temos de melhor e, precisamente por isso, mesmo os piores entre nós se acham no dever de decidir os nossos caminhos. Foi assim com Sérgio Moro e Adélio Bispo. Nós poderíamos sentir a tentação de classificar Sérgio Moro como idiota, ou como um caso exemplar do efeito Duning Kruger, desse viés cognitivo. Mas Sérgio Moro não é idiota, ele é bem espertinho, seu problema é outro. E o caso exemplar do efeito Duning-Kruger é bolsonaro, como todos sabem.

O problema de Sérgio Moro é que ele é burro, sua capacidade intelectual é claramente limitada. Vê-se a limitação nas coisas que ele fala, em como ele fala, mas principalmente no que ele escreve. O artigo Considerações sobre a operação Mani Pulite é uma pecinha chinfrim feita para dar ar intelectual ao que viria a ser a Lava Jato. Dei aula por dois semestres para alunos de Direito e corrigi muitos textos com mais espírito e engenhosidade que os do juiz Sérgio Moro. Não conheço muitas mentes e espíritos no campo de Direito, mas mesmo se eu conhecesse apenas Conrado Hübner Mendes como pensador nesse âmbito, ainda assim teria o suficiente para concluir que a tentativa de tornar o artigo de Sérgio Moro um marco intelectual (fonte de legitimidade) de uma operação jurídico-midiática é cuspir na cara dessa coisa abstrata que é o povo brasileiro, e tratá-lo como idiota. Sérgio Moro — e seu ego, que chegam quase a formar duas entidades independentes, ao invés de só uma — aceitou cumprir a função de salvador da pátria. E desse modo nos tratou como analfabetos políticos e indigentes intelectuais e, na condição de messias, decidiu arbitrariamente mudar o curso da nossa história conforme seu interesse e os interesses dos cúmplices que aceitaram (por razões heterogêneas) apoiar sua auto-intitulada empreitada anti-corrupção. Tudo isso, claro, em nosso nome, afinal, Brasil acima de tudo!

Andre Dahmer, dando a real mais uma vez.

Adelio Bispo é outro que decidiu assumir o papel de definir o destino do Brasil. Como todo o louco ele achou que sabia, sozinho no seu quarto, o que era melhor para nós. Bem, considerando que a facada verdadeiramente aconteceu. Eu me reservo o direito de separar razão e conhecimento (pretensão de objetividade) e, junto com conspiracionistas, manter no campo das coisas razoáveis a possibilidade de uma faca encenada. Nada de bizarro que envolva a família bolsonaro é completamente implausível. Não gosto de usar a palavra louco assim, pejorativamente, porque parece como se eu cegamente endossasse as normas que determinam sanidade e insanidade. A clínica tem uma história (que Foucault conta bem e de diversas formas em diferentes livros), e antes de que essa historia tivesse início havia aquilo que Goethe, ecoando outras vozes, chamava a loucura sagrada (morbus sacer). No entanto, à parte o sagrado, há também o simplesmente patológico, o anedótico, o simbólico, o significativo no fato de que um… louco, assim como o burro, tenha também virado as costas para todos os outros e decidido selar nosso destino.

É triste a sina de um país, com farta inteligência invisível e invisibilizada, cujo destino está nas mão de burros e loucos.

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