Foto extraída da galeria de fotos do artista
Geronimo Santana é desses gênios que anda entre os mortais. Facilmente o encontramos no Rio Vermelho, nos bares, ou no Pelô. Eu mesmo já tive a sorte de achá-lo há alguns anos num pub (vejam só) que ficava na Rua do Meio. Naquele noite, o maestro Fred Dantas tocaria ali (não lembro se junto com Caveirinha ou fazendo uma participação no show dele). O caso é que, ao final, no apagar das luzes, o maestro chamou Geronimo pra cantar algumas músicas e nós ficamos ali, bebendo chopes geladíssimos e apreciando a parceria e a ocasião inesquecíveis. E por acaso, juntos dois tocadores de trombone de vara.
Embora a situação seja facilmente explicável, é triste que sua figura não seja adequadamente celebrada entre os seus. Ora, nesse fuzuê industrial que se tornou a música baiana, não é de se estranhar que um sujeito tão talentoso e singular seja preterido, se não circula pelas engrenagens do marketing que hoje são responsáveis pela forja e manutenção das novas estrelas. No país da desmemória, não é de se esperar outra coisa. Embora seguramente Geronimo não esteja esquecido — e siga fazendo shows para alegria de um público cativo —, creio que seria conveniente que sua obra tivesse maior notoriedade e alcance. Especialmente porque ali estão sintetizados e preservados elementos que compõem a identidade soteropolitana, elementos que eu receio já não se encontrem disponíveis. Quiçá ainda nas obras de Jorge Amado, em um ou outro canto da cidade baixa, numa figura ou outra, em certos contextos. Os otimistas dirão que ainda há muito deles. Talvez. Mas decerto em processo rápido de extinção.
Geronimo é um dos pilares dessa civilização que me instruiu, ainda que retrospectivamente, infundindo valores e uma concepção de vida muito superior àquela que está à venda nos mercados simbólicos de hoje em dia. Concepção na qual o sol, o mar, a música, a fruição, o carnaval, e também a cultura baiana, a cultura negra, figuram como elementos centrais. Parte disso, aliás, bem representado numa das músicas que eu mais gosto:
Voltando à sua obra: apesar dos meus esforços, eu que sempre fui fã, até ontem não sabia o nome de nenhum dos seus discos (incrível como há pouco informação sobre ele disponível na web, embora se possa achar com alguma vontade). Com um pouco de trabalho reuni alguns deles, e os faço disponíveis aqui. Espero que vocês gostem tanto quanto eu, e que esse gesto simbólico possa contribuir para que se centralize alguma informação sobres seus discos na internet e que também se some a outros gestos no intuito de que essa personalidade e seu trabalho sejam merecidamente reconhecidos pelos soteropolitanos.
Clique aqui e acesse a galeria com os discos
Geronimo – Dandá
Geronimo – É do mar
Gerônimo – Eu Sou Negão (EP)
Geronimo – Geronimo
Geronimo – Mensageiro da alegria
Geronimo – Página Musical
Geronimo – Pastores do mar