Qualquer coisa pode contar algo de nós. (Não apenas nosso histórico de navegação, cookies e otras cositas más como bem sabem Google e Facebook.) O que podemos saber da cabeça de alguém que escreveu um dos livros mais difíceis da filosofia contemporânea praticamente nas trincheiras de uma guerra? Do Tractatus Logico-Philosophicus eu não compreendo inteiramente dois dos meus aforismos preferidos do livro, que são:
6.43 Se a boa ou má volição altera o mundo, só pode alterar os limites do mundo, não os fatos; não o que pode ser expresso pela linguagem. Em suma, o mundo deve então, com isso, tomar-se a rigor um outro mundo. Deve, por assim dizer, minguar ou crescer como um todo. O mundo do feliz é um mundo diferente do mundo do infeliz.
6.52 Sentimos que, mesmo que todas as questões científicas possíveis tenham obtido resposta, nossos problemas de vida não terão sido sequer tocados. É certo que não restará, nesse caso, mais nenhuma questão; e a resposta é precisamente essa.
Ainda me parece curioso que um livro dedicado à lógica ofereça ocasião para falar de temas aparentemente tão distantes, como a vontade ou como essa coisa genérica que ele chama “nossos problemas”. O certo é que nossos problemas — na perspectiva daquele que foi uma das maiores influências do positivismo lógico — não teriam sido nem sequer tocados se todas as nossas questões científicas possíveis tivessem obtido respostas. Acho que ainda há intuições incrivelmente luminosas nesse já antigo livro.