A proposição “o sentido antecede a verdade” é verdadeira, mas afirmar essa verdade não equivale a afirmar uma hipótese ou uma teoria sobre o mundo e sobre a realidade. A proposição na realidade nos convida a sair do jogo do verdadeiro e do falso, a contemplar o mundo para além das explicações, até mesmo para além do que podemos entender. Dizer que a ciência (o conhecimento) é um subconjunto do real significa dizer que o real não é um conjunto de fatos que nós conhecemos, não se reduz a isso, o real é significado, é inventado, é simbólico. A vida é uma invenção contínua — uma ficção, se você preferir chamá-la assim — e o sentido não nos é dado senão como herança cultural, que devemos aceitar ou não. Meramente aceitar a herança é o mesmo que não saber mudar de pele, viver sempre imitando. Escolher inventar ao invés de simplesmente aceitar significa criar, refletir sobre essa herança e tomar para a si o desafio de produzir o significado da vida, da experiência humana, como experiência individual e também política (portanto, experiência social e coletiva). Toda vida é um dizer sim ao impulso de criar, ou uma negativa ao desejo que pulsa dentro de nós de dizer sim.
