Certa feita recortei um pedaço do primeiro episódio de Mad Men para ilustrar um post. O vídeo saiu do ar porque estava numa plataforma que já foi pro espaço. Esses dias voltei a ver Mad Men e reassisti o episódio. O diálogo é muito bom. E acho que meu comentário ainda diz alguma coisa sobre o que ele apresenta. Leia e assista na ordem que quiser.
(Céticas ou crédulas, as mulheres frequentemente estão um passo à frente dos homens em alguns aspectos. Daí que, diante de questões como essas, mesmo a mais bem articulada segurança masculina se reduza a pó em face de um silêncio bem encaixado, interrompido somente pelo gesto seco e cortante que identifica o essencial e suficiente para desarmar. Jon Hamm traduz com perfeição o constrangimento de um homem desarmado. O constrangimento que raramente alguém verá estampado no meu rosto, pois estou protegido pelo sentimento de intimidação que alimento preventivamente. No entanto, posso ser traído pelo desconhecimento — Don foi uma das suas vítimas. Nunca se está a salvo da vaidade. De ceticismo, porém, não sofro).
Longe de qualquer “realismo”, Don é apenas um pessimista que à maneira masculina se arma de um discurso bem articulado para manter o status. Rachel vê seu discurso como uma “reação traumática” ou como uma arma de defesa. Essa inteligência propriamente feminina é intimidadora e fascinante. E aqui vale o bom emprego da palavra, interlegere. A parte o aprisionamento dos gêneros, a fixidez e intolerância com que alguns lêem qualquer coisa que separe em características homens e mulheres, o homem traduz suas armas e seus medos num discurso de força, num texto político, numa arma pública de defesa. A mulher vai mais fundo, ela lê entre, seleciona, separa, depura esse espaço público, e chega até as causas. Daí que diante de determinadas mulheres os homens se achem como Don, constrangidos, intimidados. Claro, nem sempre até a estagnação, mas com a cautela e paciência que se deve manter diante de tudo que é complexo e desconhecido.