A ingenuidade de confiar no PMDB

A

Ano passado eu anunciei que as pretensões de Geddel estavam ganhando corpo. Hoje elas tornaram-se nítidas com a entrega das pastas e cargos de responsabilidade do PMDB, no governo do estado, e com as declarações do ministro. Consequência da estratégia canhestra adotada pelo PT para compor as forças que estarão ao seu lado na próxima eleição. O PT parece ter esquecido regras simples de negociação: é preciso ter com que barganhar, além de estar disposto a certos sacrifícios, ou melhor, é preciso administrar pequenas derrotas e retrocessos na composição de forças. Desde as eleições municipais o PT se comporta como se estivesse inteiramente subordinado ao PMDB. Aqui na Bahia a consequência não poderia ter sido pior: fomos artigo de escambo na articulação política que, em tese, determinaria o apoio do PMDB na próxima eleição. Por isso Lula não participou da campanha de Walter Pinheiro e deixou que João Henrique — prefeito e candidato à reeleição — usasse sua imagem. No final das contas, seu distanciamento pesou sobre Pinheiro.

Se Lula tivesse participado, o desempenho do candidato o PT teria sido outro. As consequências seriam insignificantes para a aliança nacional com o PMDB, pois quem arriscaria a estabilidade da relação pelo domínio de Salvador? Estrategicamente, Salvador interessa muito mais ao PT do que ao PMDB. Aqui Lula sempre teve um desempenho expressivo. Mas o partido preferiu hipotecar a cidade em nome do pacto que iria apoiar suas pretensões nacionais. Quem em sã consciência reconheceria essas concessões como garantias da fidelidade do PMDB em 2010? Só um ingênuo. Só o PT. Resultado: a cidade voltou às mãos do prefeito que até seis meses antes das eleições era considerado o pior, em pesquisa realizada em nove capitais.

Para o PMDB, o cenário não poderia ser mais favorável. Instalado na capital e bem representado no interior, basta a ele que articule bem as relações travadas no interior pela forte presença do Ministério das Cidades da Integração Nacional, para angariar uma força política invejável para o próximo ano. Tudo que ele precisa é que Lula repita o erro que cometeu ano passado e se distancie da campanha de Jaques Wagner. A julgar pela defesa constrangedora de Sarney e seus asseclas que Lula tem empreendido, não é de todo impossível que isso aconteça. O presidente parece estar disposto a tudo para satisfazer o PMDB e garantir seu apoio. Resta saber se tais concessões servirão mesmo de garantia. Pra efeitos práticos, Lula não precisa nem mesmo se distanciar, basta que suba no palanque de Wagner e de Geddel. Assim terá garantido ao PMDB a legitimidade necessária para que ele empregue toda sua força numa campanha que tem de tudo para ser suja, nos moldes da mais fiel tradição carlista. Tirem suas próprias conclusões, baseadas na declaração do ministro no dia de hoje:

Minha decepção foi com o seu governo e deixamos isto claro e, inclusive, documentado. É um governo medíocre e que tem falhado muito em setores fundamentais, como educação, saúde e segurança pública. Já em 2008, quando fiz aquele artigo publicado pelo jornal A TARDE, deixei claro que não tínhamos nenhum compromisso para 2010.

Esse era o sujeito que até hoje figurava no governo do estado. Sua preocupação em sinalizar com supostos “documentos” que comprovam as diferenças com a adminstração estadual é o esforço para escapar a pecha de traidor. É a tentativa de transformar o oportunismo numa ação política, fundada em agendas incompatíveis. Acredite quem quiser. Os reais interesses são evidentes. Geddel, aliás, é símbolo do PMDB. Mais uma razão para criticar a política de alianças do PT. Não vale a pena montar uma estratégia inteiramente afiançada à instabilidade peemedebista, Lula e o PT já deveriam ter aprendido isso por experiência própria. Se o PT precisa do PMDB, o PT deveria acreditar que também o contrário é verdadeiro, do contrário ficará refém e terminará por vender outro domínio, como vendeu Salvador — ou pior, reestituirá, renovada, um novo espaço para coronelismo. Auto-estima política é fator indispensável aos partidos vencedores.

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Se Lula se comportar assim e ceder cegamento ao PMDB, eu apoio Wagner mas mudo meu candidato a presidente no primeiro turno. Pra Marina Silva, quem sabe.

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