Observações sobre os ataques em Gaza

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Crianças feridas em Gaza. Clique na imagem para ir até a galeria de fotos.

Israel ataca sob respaldo ilegítimo do Direito de Defesa. Do que eles se defendem? Ainda que fosse questão de fato saber quem iniciou os ataques, por acaso os palestinos não poderiam mobilizar o mesmo argumento para justificar o lançamento dos mísseis? As privações e humilhações que Israel impõe há meses aos palestinos são inimputáveis? As mortes e doenças produzidas pelo bloqueio são menos importantes? A subnutrição trazida pela alimentação irregular das crianças palestinas é menos revoltante? Tudo isso se nós considerássemos fato consumado a iniciativa do Hamas de atacar Israel, mas mesmo aqui há controvérsias:

However, others say that the truce was thrown into jeopardy in November when the Israeli military killed six Hamas gunmen in a raid on Gaza. The Palestinians noted that it was election day in the US, so most of the rest of the world did not notice what happened. Hamas responded by firing a wave of rockets into Israel. Six more Palestinians died in two other Israeli attacks in the following week.

Ainda que o Direito de Defesa pudesse emprestar a legitimidade necessária à ofensiva, ela não justifica o genocídio perpretado em Gaza. Aqui e ali lê-se sobre o mantra da desproporcionalidade. É de se estranhar que um professor de Filosofia designe como “mantra” as exigências reincidentes de que as partes cessem o conflito. Guerra, conflito, a propósito, são palavras empregadas na ausência de uma vocabulário adequado. O conflito em Gaza é uma massacre unilateral que só não vê quem não se preocupa em responder pelas dezenas de mortes, pelos prédios públicos destruídos, pelas mentiras propagadas como verdades nos veículos de comunicação, pelo controle do acesso da imprensa internacional e pela tentativa de instrumentalizar a mídia, através restrição ao trabalho da imprensa e do uso estratégico e diplomático da propaganda de guerra.

Mas nada é mais eloquente do que dois números. Israel matou mais soldados seus do que o Hamas. Quatro das seis mortes registradas. Cada morte anotada é uma novela para a imprensa israelense. A vida contada, fotos expostas nos jornais eletrônicos. Não faço juízo sobre esse comportamento, eles têm direito. Mas em Gaza morrem anonimamente dezenas por dia, 40, 50. Parte desse número mulheres e crianças. São só números sem rostos que os críticos do “mantra” internacional acham por bem ignorar. Israel matou tantos israelenses quanto o Hamas nas duas últimas semanas, quatro mortos, segundo o Haarezt:

Dozens of rockets have been fired at Israel’s southern communities over the past two weeks, killing four Israelis. The air strikes in Gaza have killed at least 420 Gazans, according to Palestinian reports.

Há também outras fontes de informação. Mas a questão é: quem defenderá os israelenses de Israel? Quem os defenderá da incapacidade de seu país para respeitar os termos mais elementares de um conflito justo, segundo padrões internacionais? Bobagem é acreditar que os foguetes lançados pelo Hamas precipitaram a ofensiva. Esse foi apenas o estofo legal que Israel encontrou para justificar sua ação.

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