Ponto final

P
Queridos amigos, peço desculpas, esse será o último comentário sobre o “caso Olavo”. Desde que escrevi o texto sobre Por que Olavo de Carvalho é uma porcaria! tenho recebido inúmeros comentários dos seus discípulos. Publicáveis apenas os que exercitam a poderosíssima arma olaviana: a correção ortográfica (um texto sem erros, para eles, é um texto inacessível). Outros, porém, vão mais longe e veiculam um conteúdo que eu quero dividir com vocês. Parte da diversão que inspira debater com alguém que não aceita a possibilidade de estar errado — sem, contudo, oferecer um bom argumento para isso — vai por água abaixo quando a coisa avança certos limites. É entristecedor pensar que um ser humano escreve coisas semelhantes com sinceridade, que tanto ódio pode ser mobilizado num terreno em que bastariam argumentos. Reuni os três comentários de um sujeito que se denomina “Como leio essa besteira”.

Primeiro post
Meu caro, eu vivo num mundo acadêmico e conheço bastantes figuras como você. Não sou homem das letras, mas sei identificar um idiota quanto vejo um. Não é pq você leu alguns livros que isto lhe faz a pessoa mais esperta e sábia do mundo.. acorda meu camarada. todos que se orgulharam de seguir a ciencia deram com os burros n’agua. os maiores cientistas nao foram compreendidos em seu tempo. a maioria foi reconhecida apenas anos depois de morrerem.. eu conheco varios academicos com muitos livros e artigos publicados e que acham que possuem o rei na barriga.. sao uns idiotas invejosos como vc.. olavo enxerga um mundo que você nao v ainda.. vc olha apenas para seu umbigo. bobo sou eu de perder meu tempo lendo suas palavras imbecis.. falsa sabedoria.. entender o passado é facil.. dificil eh se posicionar no presente.. nao condene pessoas que q nao concordam com vc… se elas estiverem certas.. vc vera como eh uma formiguinha q acha q conhece todo o mundo…

Segundo post, dois comentários reunidos
meu caro, estou errado de pensar assim e sei disso. mas eu desejava que sua mae tivesse te abortado, msm na ilegalidade, assim nao precisariamos ter acesso a esses textos idiotas.. voce estudou um pouco e se acha o “intelectual”… as universidades estao lotadas de pessoas assim… so fala besteira… qual sua revolta? seus pais lhe fizeram algo q nao gostou? foi decepcao com mulher? voce tem jeito de ser gay tb.. se nao for, vira.. ae vc vai ser um cara completo.. ideias de esquerda, gay, falso intelectual.. nao duvidaria de usar drogas tb pra fundir esses neuronios de merda… tb nao assustaria se vc dissesse que eh espirita ou budista ou ateu… tudo isso eh revolta contra Deus… Ele nao tem culpa das suas escolhas erradas… acorda pra vida e para de bla-bla-bla… enqnto vc fica nessas palavras vazias.. mta coisa seria esta acontecendo. eu nao sou senhor da verdade.. mas uma coisa tenho conviccao… um dia vc vera a verdade e se arrependera de dizer tantas bobagens.. ate la.. continue com sua punheta mental.. dizer asneiras faz vc se achar superior de alguma forma… nao consegui passar do segundo paragrafo.. nao vou perder mais meu tempo com vc.. nao compensa.. continue masturbando seu cerebro.. seu gozo eh temporario… prometo nao voltar mais aqui.. eh mto lixo pra kbca de qlq um.. ridiculo.. cai na real.. leia mais jornais. tente interpretar as coisas no presente.. nao apenas no passado.. isso se tiver capacidade pra tanto! usar o texto de outros ou analisar o passado eh mto facil! qlq idiota faz isso!

É preciso muito ódio para imaginar um seguidor de Olavo cogitando o aborto. Entre outras frases como “eu não sou senhor da verdade” e a terrível ameaça “prometo nao voltar mais aqui”, há coisas realmente assustadoras. Trata-se do preconceito mobilizado como arma. Aí está representado o pensamento que toma o diferente como o errado, e o errado como algo a ser erradicado. É um discurso pleno de preconceito, repito. O que assusta não é que as pessoas tenham preconceitos, mas que elas pensem poder colocá-los na ordem dos argumentos e assim sustentar qualquer posição, como se estivessem assim oferecendo uma base legítima para o pensamento. Desta forma o Estado Nazista foi forjado.

Eis o público de Olavo. Não são profissionais de filosofia e nem mesmo pessoas empenhadas no estudo regular de filosofia e política — ainda que não profissionalmente –, são indivíduos que adotam o discurso do “filósofo” apenas pelo fato de que ele expressa uma opinião política (e frequentemente religiosa) semelhante a sua — e condenam todo o resto ao mero devaneio. Que ele seja “filósofo” é apenas questão estratégica para a afirmação de um discurso político que se pretende erguer sobre estrutura e com a autoridade da filosofia. É curioso pensar que mesmo sem o domínio de certos conceitos rudimentares indispensáveis mesmo aos estudantes de graduação alguém possa discernir, compreender e decidir acerca da validade de argumentos filosóficos. É o que está em causa, por exemplo, na defesa lançada pelos devotos de Olavo, analisada no post anterior. Desconsiderando problemas com os quais qualquer pessoa minimamente familiarizada com filosofia se sentiria compelida a lidar — problemas postos desde o século XVIII, por Hume — eles promovem uma visão fortemente anti-teórica, apelando para o senso comum como se assim tudo se resolvesse. E acima de tudo pretendem a condição de juízes numa discussão ambientada em solo conceitual estritamente filosófico. Querem, mesmo de fora, apontar quem está “certo” ou “errado”.


Clique sobre a imagem para ver toda a charge

Mas voltemos àquele discurso preconceituoso, cheio de ranço e mágoa — ele não é exclusividade de discípulos condoídos, o próprio Olavo se serve dessa arma. Visitando meus leitor de feed encontrei um post hilário do Ao Mirante Nelson, intitulado Olavo de Carvalho afirma que os Engenheiros não nasceram no Hawaii. Encontrei ali, como uma das referências, um post do Imprensa Marrom chamado Olavo de Carvalho e a “discussão de alto nível”. Nosso mestre mostra grande afinidade com seu discípulo, “Como leio essa besteira”. Num gesto de sensibilidade (?) que quase engana minha esperança ingênua, o texto original foi apagado do site Mídia sem máscaras. Para nosso deleite o Google Cache salvou o conteúdo integralmente — que pode ser lido aqui. Recorto algumas passagens da resposta de Olavo a um jornalista que o acusou duramente de racismo e cobrou o diploma com base no qual ele estaria autorizado a lecionar filosofia.

A semelhança universalmente reconhecida entre o jornalista Sebastião Nery e uma nádega humana não provém, como poderiam insinuar os maliciosos, da avançada calvície. A verdadeira razão do fenômeno é muito mais profunda: é que, escrevendo ou falando, ele é o único ser vivente que se expressa por via anal. (…) Há pensamentos que, por sua obscuridade animal, ficam aquém da lógica humana e não podem ser objeto de refutação, só de análise neuropsicológica, ou mais propriamente, como diria o dr. Jacinto Leite Aquino Rego, psicoproctológica.

Não acreditam? Acessem o endereço e vejam vocês mesmo — há mais coisas. Tudo isso depois de um conveniente: “Explicar cada um desses itens seria demasiado trabalhoso”. Claro, Olavo, claro. Nós o dispensamos de qualquer explicação. Afinal, em que país sério do mundo alguém aceitaria o absurdo de se exigir diploma para lecionar em Universidades? Só no Brasil, essa terra de ninguém.

Por fim, repito o que já havia dito em Estratégias de Sedução, sobre a tática de que se valem os seguidores de Olavo e ele próprio:

Prefiro explicá-las em referência ao que há de comum com as de Mainardi, como industrioso trabalho para solapar a moldura do pensamento nacional cujo único critério público para descrédito é o fato que não lhes prestigiar o “talento” (…) Fazer do desapreço e da falta de talento resultante da aplicação dos valores que eles combatem o indicador do erro e da precariedade é valer-se de um expediente semelhante ao dos cristãos que, perseguidos, preferiram hipostasiar um além mundo que justificasse o sem sentido do seu sofrimento a combater as suas causas materiais. É uma estratégia que se mostra tão frágil quanto conveniente. No entanto, não se pode negar, é bastante sedutora.

Essa é a inversão que fundamenta, para os olavianos, a admissão do pensamento de seu mestre — contra toda a crítica. É a idéia de que seu isolamento é sintoma inconteste de sua genialidade. Por isso em todo texto que dirige críticas a ele lê-se comentários tais como os seguintes:

Oavo de Carvalho é criticado porque é um homem que fala o que muitos não gostam de ouvir. A grande massa de jornalistas brasileiros segue uma cartilha, e acha que qualquer afastamento dessa cartilha é trash. VIVA OLAVO DE CARVALHO!!

Outra versão, mais sofisticada, embora não menos espúria — (…) Ok, vamos ser mais direto. O brasileiro não aceita crítica, absolutamente. Os consagrados intelectuais e as frases de efeito – jargões – do politicamente correto fazem da revolução de 68 um marco eterno na alma da intelectualidade tupiniquim. (…) Apenas ouvimos, com um sorriso idiota, pseudo intelectuais falando a uma multidão de paspalhos. Mas a lágrima é verdadeira (bem disse Renato Russo) rsrsrsrs!
Convenhamos, num país em que Marilena Chauí é filósofa, Paulo Coelho é escritor e Maria Bethânia é cantora, o que podemos esperar? Ah sim… não precisamos dessa bobagem da cultura que o Espírito Humano desenvolveu durante 4.000 (basicamente) anos de história – lembram-se de Hegel?

Pobre Hegel — sempre chamado a endossar carteiradas. A propósito: ouvimos? Quem, cara pálida?

Perdoem a chateação recente, meus caros.

Atualização: Mais um exemplar da elegância de Olavão, a transcrição de seu programa. Debate em alto nível!

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