Há um aspecto particularmente notável em toda essa patacoada. Daniel Dantas é o catalisador das mais profundas e céleres mudanças estruturais do país. Nenhum absurdo — dos muitos que por aqui grassam — inspirou maior prontidão do que os que supostamente pesaram sobre os ombros de Dantas. Nenhum grampo ilegal anterior realizado, nenhum “abuso” no emprego de algemas, nenhum inadequado pedido de prisão preventiva, nada, absolutamente nada pareceu tão escandaloso aos olhos das autoridades públicas do que os excessos da operação Satiagraha.
Nem mesmo o assassinato dos garotos em Ribeirão Pires foi capaz de tocar o coração das autoridades com a mesma força — mesmo que parte do Estado tenha sido co-autora do assassinato, posto que era mais do que claro que eles não deveriam voltar pra casa, já que o pai e a madrasta respondiam a processo movido pelo Ministério Público por maus tratos. Os garotos já haviam passado quase 9 meses longe de casa, num abrigo (escrevi um post sobre o caso, mas depois o apaguei sem querer). Um dia antes do assassinato fugiram e ao serem encontrados por policiais imploraram para que não fossem levados pra casa. Mesmo assim voltaram. Não é preciso ser formado em Direito ou Psicologia para saber que o retorno era a única alternativa vetada. No entanto, com o apoio de laudos psicológicos, a juiza determinou o retorno sem comunicar o Ministério Público, parte interessada, e selou a sorte dos meninos. Eu confesso que não consigo imaginar situação mais absurda! Revisito as memórias dos livros de Dostoiévski e tudo ali parece menos sombrio e angustiante.
Qual nada, miudezas! Pouco importa que abriguemos em nossos quadros institucionais incompetência tamanha capaz de condenar a morte — em terríveis circunstâncias — duas crianças. Importante mesmo é perscrutar as falhas do tenebroso juiz De Sanctis, esse interesseiro. Em breve, tenho certeza, adotaremos um novo calendário em nosso país. Abandonaremos o antiquado marco cristão e em seu lugar colocaremos uma nova figura, a de Daniel Dantas. 2009, então, será o ano um do novo calendário. Ano Um Depois de Dantas. E os anteriores, óbvio, serão referidos como Antes de Dantas. Lembram-se da Copa de 6 A.D.? Ah, que belo time, ahn? Precisamos de Felipão novamente!
Vocês me perdoem se não escrevo com frequência. Até dezembro tenho alguns projetos para concluir que exigirão todo o meu tempo. Sempre que possível venho disparar alguma bobagem por aqui, não desistam.