Muita gente boa tem se manifestado sobre o vazamentos das contas do ex-presidente FHC. Alguns para declarar que o mais importante é transparência nos gastos presidenciais. Segundo declaração da ministra Dilma Rousseff parte dos gastos divulgados já estava arrolada entre as informações disponíveis no Portal da Transparência.
Dilma afirmou ainda que o governo não teria nenhum interesse em vazar essas informações, pois parte delas não seriam confidenciais. “Elas não são confidenciais porque nasceram não confidenciais. As informações estariam todas no Portal da Transparência [que na época do antigo governo não tinha sido criado]. Vamos chantagear com o que, com o público e notório?”, questionou ela.
Mas esse é um debate entre aqueles que acham que os gastos presidenciais devem ser divulgados integralmente e os que acreditam que há questões de segurança pública que impedem a divulgação de algumas dessas informações. É um debate justo e legítimo — apenas uma dúvida: não há também entraves legais a divulgação integral das despesas presidenciais, que obedecem de fato ao argumento em prol da segurança pública?
Mais uma vez, esse é um dos planos do debate. Para mim, adianto, o menos importante, porque ele vem alimentar um debate político (eleitoral) em torno de despesas de dois governos e não para promover mudanças e regulamentação no uso de cartões corporativos e coisas afins. Do outro lado do debate está o vazamento ilegal de informações com claro propósito político. Um crime a serviço da política. Nesse terreno o único que acercou em cheio foi Nassif:
A Casa Civil entra no clima e se prepara para enfrentar a crise da tapioca na CPI. Procede a um levantamento de todas as despesas presidenciais englobando o período FHC. Até aí tudo normal.
Parte dos dados vaza para a imprensa. Para quem? Para a revista Veja. Nem o mais improvável dos “aloprados” buscaria a Veja para atacar o ex-presidente FHC. Logo, o vazamento dos dados partiu de alguém que não atuava em sintonia com a Casa Civil.
Um aliado do governo e membro da Casa Civil fornece as informações para Veja, mas antes dá algumas pistas ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR) — em seguida casa com uma marciana de três olhos e, para não ser encontrado, se muda para Plutão. Nassif continua:
O ponto central da história não é saber se o levantamento foi feito ou não, se as informações estavam sendo organizadas ou não. É saber qual foi a motivação para o levantamento e para o vazamento de dados.
Tem duas possibilidades.
O governo diz que estava organizando os dados para poder fornecer à CPI quando solicitado.
Veja conclui, com a facilidade que lhe é peculiar, que o levantamento visava chantagear a oposição. Quais as evidências? Nenhuma.
É essa a questão central que a reportagem da Veja não esclarece. Mostrou tudo menos o essencial. Quem foi chantageado com esse relatório? Qual a prova de que se destinava a chantagear? Qual a testemunha que ouviu, alguma vez, que a intenção era a chantagem para evitar a CPI?
Produzam mecanismos de controle do uso de cartões corporativos, regulamentem despesas e custos presidenciais, divulguem as informações relativas aos gastos de todos os presidentes — mas antes de qualquer coisa, vamos pôr fim a esse vale-tudo político. Quando atingiremos o limite do tolerável?