Abro o Facebook e encontro professores debatendo velhas ideias com um entusiasmo comovente. Desço até a praça San Idelfonso e ela está cheia. Gente entre vinte e trinta anos se reúne na praça pra escutar música dificilmente tolerada pelos doutos senhores do Facebook. Pode ser bobagem, mas alguma coisa chama minha atenção nesse passeio, nesse estar entre pessoas da minha geração. Daqui a trinta ou quarenta anos talvez nós sejamos velhos ensimesmados em nossas próprias ideias, mas agora minha impressão (e minha esperança) é outra. Minha impressão é de que há algo realmente interessante nesse modelo de cidadania forjado no espaço público, na convivência, e que se manifesta não só nos encontros festivos de bairros boêmios modernos (e gentrificados), como Malasãna, mas também em Lavapiés (bairro de imigrantes de Madrid) e seguramente em outros lugares no mundo. Algo difícil de entender, já que os encontros nas cidades brasileiras, moldadas pela lógica segregacionista do condomínio, são coisas meramente acidentais. No Brasil as pessoas de diferentes classes, de diferentes ideias, só se encontram e se frequentam por acidente — ou no carnaval, pensando em Salvador. Em tempos de camarotes, quem sabe nem mais aí. De qualquer sorte, há nesses encontros um magnetismo, uma abertura que se sente no ar, que me dá a confiança de que talvez possamos fazer algo diferente, quer seja em termos de ideias, quer seja em termos de uma abertura ao novo, de uma posição afetiva menos intolerante, receosa, acanhada e narcisticamente orientada.
Foi em Entrevista com Vampiro que me dei conta de algo curioso. Os vampiros mais velhos, no filme, se empenham para estar ao lado dos vampiros mais jovens. Eles precisam entender o espírito daquele novo tempo. Envelhecer é arriscar separar-se da própria humanidade, isolar-se num conjunto de referências que, no ritmo do nosso tempo, tornam-se velhas numa velocidade assustadora. (Às vezes eu mesmo sinto um certo distanciamento aprofundar-se.) Mais do que nunca é preciso entender e aceitar a profecia de Belchior, aquela contra qual os conservadores se debatem inutilmente: o novo sempre vem.
PS. Tudo isso dito por alguém que já pensou, vejam só, que não havia nada mais sábio do que o conselho dado por Nelson Rodrigues à juventude, em entrevista a Otto Lara Resende: “Jovens, envelheçam!”