No segundo turno das eleições municipais de Salvador, meu voto é de Walter Pinheiro, do PT. Comentarei brevemente alguns aspectos a serem considerados, impressões que orientaram meu voto. Falarei sobre os dois candidatos, mas, acima de tudo, sobre os motivos pelos quais não voto mais em João Henrique.
João Henrique. Votei nele na eleição anterior. Durante algum tempo não tive razões para reclamar e pensei efetivamente que se tratasse de uma mudança positiva. Até que surgiram os primeiros problemas relativos ao endividamento da cidade. Pesou contra ele a incapacidade de organizar as finanças antes de partir para a realização das obras. Mas o problema foi aparentemente sanado — mediante uma injeção de verbas federais, é o meu palpite. Depois surgiu o Salvador Card, que substitui o antigo cartão de meia passagem (Smart Card), obrigando todos os usuários a recarregá-lo num dos postos instalados na cidade. Resultado: licitação, empresa terceirizada recebendo para realizar o serviço, usuários insatisfeitos em razão da obrigatoriedade da visita aos postos de recarga. Além desse transtorno, incomoda particularmente a contratação de uma empresa para realizar o serviço. Na Bahia, a terceirização de serviços por parte de empresas estatais produz enormes embaraços, para os funcionários, claro (além do problema gerado para os usuários). Para os empresários é uma mina de ouro. Surgiram os problemas na saúde, o decreto do estado de emergência, ponto culminante da crise. Porém, o que levou o PT, e qualquer cidadão consciente, a se afastar do atual prefeito foi o caso PDDU. Um plano diretor que não é outra coisa senão um estupro a cidade. Aprovado de maneira suspeita, para dizer o mínimo, o plano é uma mãe para qualquer setor da economia interessado em ganhar dinheiro irresponsavelmente. Fere o meio ambiente, desconsidera as vias de tráfego já obsoletas por anos falta de planejamento, além de não promover a organização e a estruturação para ocupação do solo, a fim de fazer Salvador crescer de forma ordenada, sem prejuízo ambiental e social. Aliás, um plano diretor decente tem que fazer do aspecto social e ambiente o eixo de sua orientação. Qualquer pessoa minimamente sensível, nos últimos 10 meses — ou antes mesmo da aprovação do plano — tem notado um crescimento assustador no número de construções em areas antes impensáveis. Prédios enormes erguidos a beira mar, construções históricas sendo compradas (sendo necessária a intervenção do estado para barrar a avidez cega das construtodoras). Repito, não é exploração imobiliária, é um estupro imobiliário — e a vítima dessa violência é uma cidade marcada por anos de vistas grossas das autoridades públicas às barbaridades que nos custaram uma organização das vias urbanas que beira o patético. Daqui a cinco anos ninguém poderá sair de casa de carro. É óbvio que o lobby dos construtores teve um forte impacto nessas decisões, e o apoio de um setor como o da construção civil é mais o que suficiente para alimentar uma campanha.
Pior de tudo é ver, agora, o candidato tentando vender a imagem de um prefeito atuante. Há pouco menos de 4 meses explodiram pequenas obras que são de bastante valor, quando não se tem mais do que isso como critério para avaliação política: “banho de asfalto”, “banho de luz”, algumas começaram há mais tempos, outras se inseriram nesse prazo. Apenas coincidência, claro, que tais obras estejam sendo concluídas neste exato momento. A prefeitura realizou uma enquete no intuito de saber a preferência da população para o local do antigo Clube Português. Nenhuma das opções incluia uma praça. Até porque, bem em frente está a praça da Igreja da Nossa Senhora da Luz. A consulta pública terminou e, misteriosamente, surgiu no antigo espaço do Clube Português uma praça — em frente a outra praça. Uma praça das mais salafrarias, 50% dela é espaço verde, gramado, sem nenhum recurso adicional. É o projeto mais rápido, eu imagino.
Além disso, João Henrique tem assumido um perfil a la Anthony Garotinho. Incrementou sua religiosidade, ou melhor, fez dela a vitrine para certa camada numerosa de eleitores interessados em votar apenas em alguém que represente seu pensamento religioso.
Walter Pinheiro. Primeiro preciso dizer que a escolha de Pinheiro, para mim, foi errada. Pelegrino era mais indicado, tem maior notoriedade — embora, obviamente, maior rejeição. Antes que João Henrique ameaçasse, estava disposto a votar em Hilton. No final, tive que votar em Pinheiro. A escolha era apenas uma questão estratégica, Walter não tem nada que o desabone. Quer dizer, falta carisma, mas como político ele é seguramente dedicado e competente. Como deputado, lutou para implantar a Universidade do Recôncavo, importante para formação de profissionais voltados para o interior. Articulou a captação de dinheiro para obras em Salvador, para a própria UFBa, junto ao NEIM, por exemplo. Faz parte da luta em favor dos projetos de Software Livre. Além de trabalhar em favor de obras para o tráfego da cidade, em parceria com o governo do estado. O PT de Salvador abandonou a prefeito por ocasião do PDDU, o que sugere uma política diferente para área e a perspectiva de que uma reforma no plano diretor aprovado acontecerá caso Pinheiro seja eleito. A aliança com o governo estadual e federal é outro aspecto importantíssimo. Por mais que o PMDB também cumpra o papel de aliado, há diferenças.
Pinheiro tem muitos méritos, mas hoje ele é acima tudo, o representante de um pensamento diferente daquele que aliciou João. A ocupação do solo é uma questão central para Salvador e não podemos correr o risco de deixar nas mãos das empreiteiras a função de organizar a geografia da nossa cidade. Faço questão que vocês assistam o vídeo da aprovação do PDDU na Câmara de Salvador, assistam e tirem suas próprias conclusões.
Em São Paulo, como não poderia deixar de ser, eu apoio Marta. Há uma campanha em favor dela centralizada no blog Blogueiros com Marta. Visitem-no! Precisamos contrabalançar as forças gigantescas mobilizadas em favor de Kassab.
Atualização: Leiam a boa entrevista de João Henrique ao jornal A Tarde, no começo do ano. Dá pra ter uma idéia de como um Oceanário se transformou numa praça em frente a outra praça e outros problemas da sua administração.