A única maneira de dispensar e de prescindir da energia das revoluções, do que elas têm de incontrolável e violento, sem abrir mão do que elas têm de rapidamente transformativo é admitindo uma dimensão de radicalidade em si mesmo, é entendendo o papel da destruição e da instabilidade — dentro e fora de si mesmo.
Nietzsche sobre as revoluções:
Uma ilusão na doutrina da subversão. — Há visionários políticos e sociais que com eloqüência e fogosidade pedem a subversão de toda ordem, na crença de que logo em seguida o mais altivo templo da bela humanidade se erguerá por si só. Nestes sonhos perigosos ainda ecoa a superstição de Rousseau, que acredita numa miraculosa, primordial, mas, digamos, soterrada bondade da natureza humana, e que culpa por esse soterramento as instituições da cultura, na forma de sociedade, Estado, educação. Infelizmente aprendemos, com a história, que toda subversão desse tipo traz a ressurreição das mais selvagens energias, dos terrores e excessos das mais remotas épocas, há muito tempo sepultados: e que, portanto, uma subversão pode ser fonte de energia numa humanidade cansada, mas nunca é organizadora, arquiteta, artista, aperfeiçoadora da natureza humana. — Não foi a natureza moderada de Voltaire, com seu pendor a ordenar, purificar e modificar, mas sim as apaixonadas tolices e meias verdades de Rousseau que despertaram o espírito otimista da Revolução, contra o qual eu grito: “Ecrasez l’infâme [Esmaguem o infame]!” Graças a ele o espírito do Iluminismo e da progressiva evolução foi por muito tempo afugentado: vejamos — cada qual dentro de si — se é possível chamá-lo de volta!
Nietzsche, Humano, demasiado humano, § 463