Não tem sentido estender a noção de individualidade ao reino espiritual, o espírito é apenas um. Nossa alma? Nossa alma é a alma do mundo. Talvez quando nos olharmos nos olhos possamos ver algo aí dentro, reconhecer essa coisa. — Nós mesmos? Não, outros como nós. E nos reconhecendo outros talvez possamos lembrar que não devemos temer a nós mesmos. E o feitiço tramado pelo medo se quebrará. Não há argumento contra o medo, e a confiança cega não é a solução, nenhum humanismo nos salvará!, pois não precisamos ser salvos, precisamos apenas encontrar meios de evitar que explorem a nossa desconfiança, aquilo que inibe o amor e estimula o ódio. Porque nada mais humano que desconfiar de um ser humano.
É provável que nunca cheguemos ao estágio em que confiar num ser humano seja sinal de prudência e bom julgamento. Usando uma imagem progressista: nunca chegaremos a ser assim “evoluídos”.
Quando vejo as pessoas que pedem dinheiro no metrô de Madrid, sentindo uma empatia certamente enfermiça, eu penso que o que mais dói nessa condição humilhante é ter que depender de algo tão escasso quanto a bondade humana.