Pensando sobre minha completa incapacidade e incompetência para avaliar o tema, consegui exprimir ao menos minha dificuldade conceitual em relação a toda a trama. A dificuldade dessa questão me parece apenas uma e pode ser formulada assim: quando é que a gente deve permitir que uma diferença sentida se transforme numa diferença, por assim dizer, institucional? Sempre? Quando devemos aceitar que a vontade de afastar-se possa converter-se em afastamento real. Um plebiscito pode constituir essa legitimidade? Se fizéssemos um plebiscito em São Paulo pra decidir se o estado deveria se separar do resto do Brasil, talvez o sim prevalecesse, e essa não nos parece ser uma razão pra permitir a separação. A resposta do plebiscito é sempre o menos determinante. É apenas a cereja do bolo. Muitas outras questões importantes (ainda indeterminadas) precisam antes serem definidas. Um critério deve ser estabelecido e uma vez estabelecido, ele permitirá outros casos. Precedentes, pra falar numa linguagem mais próxima ao Direito. Porque se a Catalunha puder, por que não poderá a Galícia? E o País Vasco? Por que não poderá cada comunidade do mundo que sentir que sua reivindicação é legítima? E quem julgará a legitimidade dessas reinividicações, sem um critério de correção? A complexidade desse critério não pode ser um argumento contra ele. Todo o medo que inspira a questão catalã gira em torno dessa zona de sombra e da dificuldade de lidar com essas e outras perguntas não ditas.
Longe de mim justificar o medo. Estou apenas tentando entender por que ele se constitui e por que não se dissipa (porque nem mesmo os seus defensores se põem essas questões).
Tenho uma amiga catalã de esquerda que milita em ONG; ela que me hospedou quando visitei Barcelona nos anos 90. A gente conversou sobre isso e ela disse que não via grande relevância na causa independentista, que o mais importante era as questões mais gerais, os direitos humanos, a situação dos trabalhadores, etc. Que de nada adiantaria ter um governo soberano que fosse conservador.
Pois é, Marcus, a questão é complexa e a verdade é que muito não se discute para não ferir susceptibilidades.
Depois eu conto pra você (não publicamente) porque eu tenho uma pulga atrás da orelha com essa coisa toda.