Primeiro é preciso dizer que a simples presença de Marina no quadro de candidatos não garantirá que suas propostas sejam abordadas e discutidas — muito menos implementadas. A capacidade de impor uma pauta dependerá da força registrada nas pesquisas. Se sua agenda verde não cair no gosto dos brasileiros, seus adversários não terão porque reorganizar seus planos. É indiscutível que um projeto para o país é fundamental, especialmente se ele vem ancorado em bases que priorizam ações e práticas sustentáveis. Sem dúvida, a ex-ministra tem competência e qualidade para elaborar um projeto nesse sentido, a questão é: em que medida sua candidatura e sua possível eleição contribuem para a mudança de rota de um projeto nacional e que elementos novos ela traz para isso.
É aí que a candidatura de Marina começa a fazer água. Seu futuro partido está contaminado até o último fio de cabelo com as bactérias do atual modo de fazer política ao qual ela parece um contraponto. Ali na base do governo, alhures contra os partidos que o sustentam, no Rio mascateando o palanque pra Serra, o Partido Verde segue fazendo política à maneira bem conhecida. Reformar um partido não é tão fácil quanto prometer reformá-lo — o PT que o diga –, difícil afiançar um projeto de mudança a essa possibilidade. Parece irreal. Diante desse cenário, é inevitável pensar que as possíveis promessas de campanha não tocarão o solo da realidade pela mesma razão pela qual a ex-ministra não viu seus projetos contemplados quando esteve à frente do Ministério.
Mas não é por culpa dela que isso acontecerá. O problema todo consiste em vender uma ideia que não pode se realizar. Acho que já estamos maduros para não acreditar em ilusões. O caminho da mudança é um pouco mais sujo, embora, evidentemente, não dispense a elaboração de projetos. Exige, ao meu ver, a desarticulação do PMDB como a médula de todo e qualquer governo que se estabeleça. É preciso, por exemplo, estirpar as negociatas fisiológicas que contaminam as ações políticas e fortalecer os instrumentos de controle sobre suas práticas, só assim teremos condições para pensar na possibilidade de mudança significativa e na realização de projetos inspirados em modelos de sustentabilidade. Do contrário, persistirá esse modo de fazer política que “subordina” os governos a pactos em nome da “governabilidade”, que não são outra coisa senão “pactos como demônio”. É preciso dizer: não é que ela não possa fazer um bom governo, é que nesse contexto, não fará muito diferente do que fariam PT e PSDB. E não é isso o que está implícito na dimensão que alcançou a possibilidade de sua candidatura.
Tudo isso torna a eleição para o Legislativo, no próximo ano, talvez ainda mais importante que eleição presidencial. É preciso renovar os rostos, mas também as ideias, as legendas, e evitar a concentração escravizante de poder que tem sido a dor e a delícia dos governos nos últimos 20 anos.
Agora, a candidatura de Marina certamente abalará as pretensões de Dilma. Pois obviamente ela captará parte do capital simbólico antes reservado à ministra da Casa Civil e, por consequência, também o capital eleitoral. Alguns peessedebistas estão em polvorosa, mas nada ainda é certo. Como Kennedy Alencar bem observou, Marina tem pouca projeção nas camadas mais baixas, portanto, é possível que retire também uma parcela do eleitorado de Serra. Dilma, contudo, certamente será mais prejudicada. Daí que é inevitável não pensar a própria candidatura da ex-ministra como mera variável no confronto Serra-Dilma. E um fator que irá se juntar a outros na composição das forças contra o PT. Não que seja essa a intenção de Marina, estou certo que não é, mas alguém estaria disposto a pensar que essa não é uma das metas do PV?
Eu sou um sujeito tolerante, mas a possibilidade de uma presidente criacionista e evangélica me causa arrepios. Não é o tipo de ideário que eu quero ver misturado às questões políticas relevantes. Já não basta o poder político crescente que eles têm obtido, se o lobby evangélico unir forças ao católico — embora seja um cenário improvável, mas não impossível quanto a certas questões — em breve estaremos em plena Teocracia. Mesmo se isso não acontecer, questões centrais como aborto, células tronco, podem retroceder para etapas ainda mais retrógradas.
Aqui duas entrevistas da Ministra: