Eu tenho boas amigas e elas têm papel fundamental em minha vida. Minha fortuna para encontrar amigos é invejável — é bem verdade que eles são pouco numerosos, mas ainda sim abnegados e extremamente atentos aos meus minguados caprichos. Embora em boas qualidades eles se equiparem, as mulheres levam vantagem em alguns quesitos. A gente sempre pode beber com amigos, se divertir, beber — para gente saudável, beber é a melhor terapia –, mas há um limite. Os amigos, como homens, são limitados em matéria de sabedoria. As mulheres, o contrário. Só com elas um sujeito pode se sentir plenamente à vontade.
(Aproveitando o ensejo, deixem que eu cumpra a promessa de homenagear a chapeuzinho vermelho mais quente de toda a Olinda. Reza a lenda que até os Policiais Militares andavam tentados a descer dos seus postos e uivar como lobos para a lady in red)
O caso é que sempre que eu manifestava a minha crônica melancolia, seja pelas brigas com as namoradas, seja pela sensação sistemática de que Fernando Pessoa às vezes falava de mim, eram elas o bálsamo de minhas angústias. A aptidão maternal para acalentar está em toda mulher. Perdi muitas amigas para minha natureza antisocial e conflitiva — Ivone, Daniela — mas conservei outras que guardo no coração.
No campo amoroso a coisa é complicada, nunca tive a sorte de encontrar nas namoradas as mesmas qualidades que adorava nas amigas. Quando encontrei, joguei fora, por causa da imaturidade que se tolera aos 20 anos. Outras vezes, vejam só, tive que desistir de relacionamentos promissores com amigas por circunstâncias em que ambos estávamos metidos. Creio que os meus relacionamentos mais auspiciosos estagnaram em situações desse tipo.
Pensando bem e falando com honestidade, as mulheres são o céu e o inferno. Porque se é verdade que elas têm uma natureza balsâmica, é igualmente verdadeiro que atuam para amenizar os males causados pela sua própria classe. Ainda mais quando isso me diz respeito, pobre vítima dos malévolos planos de algumas mentes femininas. No meu tour recente pelos meus filmes preferidos encontrei um fragmento bastante ilustrativo em Alta Fidelidade. Os homens saberão reconhecer o padrão.
O humor, o caráter, o cheiro, o dormir (gosto especialmente quando ele diz que “ela não descarrega nos outros quando tem um dia ruim”). Tudo nas mulheres ganha novo significado. Pode parecer uma série desconexa de elementos, uma espécie de enciclopédia chinesa, mas é a unidade mística dessas criaturas. E assim, numa lista confusa de características apresentadas num filme pop, está muito bem representado o que é exatamente essencial e ambíguo na natureza feminina. Há uma frase que diz: o diabo está nos detalhes. Bem, não é à toa que se crê que elas são criação diabólica. Não há nada mais detalhista e minuciosa. Sejam as mães que aporrinham pelas camas desarrumadas, sejam as namoradas que não conseguem dormir com seus pequenos gestos e trejeitos. Os homens não são assim tão encantadoramente minuciosos.
Bem, perdoem essas linhas mal elaboradas e confusas — como de hábito. Essa é apenas a minha canhestra maneira da homenagear e agradecer às mulheres de minha vida que merecem agradecimentos. E as que não merecem também, vá lá, afinal a vida não é composta exclusivamente de bons caminhos, a minha muito menos. Amo todas vocês. E não se sintam enciumadas pela foto de Sarinha — ciúmes, vocês sabem, é cousa bem feminina.
Atualização – Querem saber da mágica que só as mulheres oferecem: um único sorriso, em resposta a um gesto de cortesia, capaz de dissipar as sombras de um dia carregado.