O relatório pró-Dantas do PSDB

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O Política Livre transcreve uma matéria da Folha onde se lê:

Técnicos do PSDB na Câmara começaram a formatar, antes do recesso, o relatório alternativo ao parecer do deputado Nelson Pelegrino (PT) na CPI dos Grampos. O eixo do documento tucano tem três pontos: 1) listar operações anteriores da Polícia Federal para mostrar que “nunca antes” houve empenho investigativo similar ao da Operação Satiagraha; 2) citar dados da auditoria do Exército para afirmar que a Abin tem pelo menos sete aparelhos capazes de produzir grampos não-autorizados; 3) cruzar dados do Conselho Nacional de Justiça com material enviado pelas operadoras para argumentar que ninguém sabe ao certo quantos são os grampos em andamento.

Devemos reconhecer e prestigiar a honestidade do PSDB, o partido assumiu a defesa dos interesses de Daniel Dantas enquanto o PT se esforça por dissimulá-la. Não sejamos parciais, Pelegrino fez o possível e o impossível para dar conteúdo ao circo da CPI dos Grampos. Quanto aos pontos que serão abordados na documento tucano, puxa, comentá-los induz inevitavelmente a peças de humor. 1) Acho que a Polícia Federal deve ser dissovilda, não cabe a uma instituição pública empenhar-se tanto no exercício de suas funções — mirem-se no exemplo do Congresso. O ócio ali grassa em paz duradoura, para orgulho dos nossos representantes. 2) Apesar do Gabinete de Segurança Institucional ter concluído a sindicância sobre a participação da ABIN nos supostos grampos afirmando a “ausência de indícios da realização de escutas telefônicas ou outras modalidades de quebra de sigilo de comunicação, clandestinamente ou não” e mesmo depois de notícias como essa circularem pelas soleiras dos jornalões: PF deve encerrar em janeiro investigações sobre escuta no STF, que até hoje não têm provas nem suspeitos, o PSDB insiste na tese de que a ABIN e a Polícia Federal produziram grampos clandestinos. Eu gostaria de fazer uma pergunta razoável a algum desses tucanos: baseado em que vocês insistem em defender essa tese? Eu sei a resposta ou pelo menos a razão da insistência: é a velha estratégia olaviana de afirmar uma tese e distorcer o mundo até que ele se enquadre na moldura pintada por ela. Pra que o PSDB precisa de técnicos produzindo um novo relatório? Para que eles afirmem aquilo que o relatório oficial (apenas por senso de ridículo, e não por falta de vontade da situação) não deverá afirmar: a existência de grampos clandestinos ou pelo menos de instrumentos capazes de realizá-los. O objetivo vocês já sabem, minar a credibilidade das instituições e das pessoas responsáveis por Satiagraha — qualquer um que já tenha lido meus posts anteriores sobre o caso sabe disso. 3) Depois de alardear o número de 409 mil grampos e criticar o CNJ por ter divulgado um relatório com quantidade significativamente menor, 12 mil, o presidente da CPI, Marcelo Itagiba, deve ter se alinhado ao PSDB (eu suponho) para produzir o novo relatório. Para isso deram um passo atrás, de críticos do balanço apresentado pelo CNJ os defensores de Dantas passaram a céticos, alegando que nenhum número exato foi produzido acerca da quantidade de grampos no país. Claro, depois de flagrados na mentira, querem justificá-la.

É preciso muito cinismo para defender teses semelhantes. Maior cinismo só o de quem continua a acreditar que essas figuras não têm o rabo preso. Salvo raras exceções, o único critério para avaliar um político no Brasil se reduz a saber até onde ele está disposto a manter-se filiado aos seus compromissos particulares, fisiológicos. Pelo que se vê, alguns estão com Dantas até que a morte — ou a cadeia — os separe.

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