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O caráter não-científico do inconsciente

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O pobre Freud matava e morria pelo científico. Até hoje, a crítica à cientificidade da psicanálise dói fundo, porque nada é mais importante para um pensamento do que ser científico. Depois que Natalia Pasternak publicou um livro em que desanca a psicanálise, o debate se reacendeu mais uma vez. Acho o debate sobre a cientificidade da psicanálise um tema dos mais chatos que existe, e totalmente...

O ativismo é uma praga

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Minha opinião apressada é que há muito tempo não há nada, ou quase nada, de interessante no pensamento político que vem dos EUA (com notáveis e importantes exceções). Não me levem a mal, eu acho que há coisas interessantes em sua história, mas faz tempo a importância cultural dos EUA produz uma perniciosa universalização das formas de ação política deles. Ou pelo menos essa é a impressão que eu...

Ruído ou conversa

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Nós estamos conectados 24/7, podemos sempre falar uns com os outros. Antes, estávamos distantes. Quando Luiz Gonzaga conta que voltou à casa sem anunciar seu retorno, 16 anos depois de ter saído, é como se falasse sobre outro mundo. Agora estamos tão próximos e não sabemos o que dizer, tudo soa ruído, nunca conversa. Somos mais um estímulo visual inútil uns para os outros, mas nunca presença e...

Por um masculino não envergonhado

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Uma nova identidade masculina Ainda que os homens se reconheçam como históricos opressores das mulheres, isso não significa que para que as mulheres possam ter um papel igualitário* na sociedade (um papel que não seja o de mera vítima do masculino) os homens precisam andar de cabeça baixa, olhando para o chão, envergonhados. Um masculino envergonhado não ajuda o feminino, por mais difícil que...

O gosto pelo mórbido

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Tirei essa foto em 2022, em numa praia em A Guardia, na Galícia. Assim que despontamos na curva da rua onde está a praia vi os policiais e logo o corpo coberto. Saquei o smartphone do bolso imediatamente e tirei a foto antes que alguém notasse minha condição de freak. Desci para a praia menos curioso para ver o morto do que a reação à sua presença. Era indisfarçável não apenas uma curiosidade...

Renascer

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Quem não renasce, morreQuem não está renascendo está morrendoÉ preciso renascer, ainda que a morte seja inevitável! Renascer é uma forma de acreditar (na vida). Quem não renasce pensa que a todo momento está morrendo, até que finalmente esteja. Renascer é uma forma de mudar de pele, de identidade, um jeito de assimilar a instabilidade (do corpo e do espírito), não como identidade, mas como ética...

Nietzsche sobre a confiança das pessoas estreitas

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Nietzsche se denominava o primeiro psicólogo e é assombrosa a verossimilhança dessa afirmação. Cem anos antes que fosse publicado o estudo sobre o chamado efeito Dunning-Kruger, Nietzsche já falava da força e da confiança das pessoas estreitas. Não em termos epistêmicos, como quem coleta dados para justificar uma hipótese, mas como um atento observador da alma humana. As notas de um observador...

Colonialismo espacial

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O colonialismo espacial é uma realidade — e um mercado onde circula muito dinheiro. A Índia já pousou um foguete no lado escuro da lua, investidores falam e apostam no turismo espacial, cientistas pensam a viabilidade da vida humana em Marte. Quando me ocorre que as pessoas estão pensando seriamente sobre essas coisas, 3 ideias me vem à cabeça: Atrofia muscular. Se a atrofia já se faz notar em...

Tempo e memória

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After Yang é um filme cosmopolita, urbano, que celebra a diversidade e a mestiçagem dos tipos humanos. O filme aborda filosoficamente dois temas interessantíssimos: o tempo e a memória. O tempo é o chá e a sua cerimônia, é o ritmo que a cerimônia imprime em nossa vida. A memória é o amor que presta atenção, que seleciona e armazena imagens e lembranças para construir um mundo: o mundo do amor. O...

Brinquedo de encaixar: a sexualidade de Bella Baxter

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Resenha de Poor Things, de Yargos Lanthimos Não sei como nem por quê, mas em minha casa havia o exemplar de um maravilhoso livro chamado “Relatório Hite”, e eu o li quando tinha pouco mais de 12 anos. Fiquei completamente fascinado pelos relatos de como as mulheres se masturbavam, era tão fácil e acontecia nos mais inusitados lugares. Depois, mais velho, conheci as histórias sobre...

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