Quando estamos longe dos conflitos étnicos ou nacionais é fácil falar em pós-nacionalismo, porque não há nada que faça nosso sangue ferver, e falamos situados na paz. Mas eu quero falar de ideias — não de soluções, não de deveres e princípios, nem de nada concreto —, eu quero falar de uma ideia não como um instrumento, mas como algo abstrato e muito vago. Ainda que as ideias assim abstratas não(...)
Pós-nacionalismo
Tempo de correção
Um escritor medíocre deve tomar cuidado para não substituir rapidamente uma expressão grosseira e incorreta por uma correta. Ao fazer isso ele mata a ideia original, que ainda era pelo menos uma muda viva. E agora está murcha e não vale mais nada. Ele agora pode muito bem jogá-la no lixo. Enquanto que a lamentável muda ainda tinha uma certa utilidade. Wittgenstein MS 138 (eu sou o culpado pela(...)
Egocentrismo natural e básico
O aspecto central do texto mais famoso de David Foster Wallace é o que ele chama de “egocentrismo natural e básico” ou “egocentrismo profundo e literal” ou simplesmente “configuração padrão”: a tendência a pensar a si mesmo como o centro do universo. E em certa medida o texto é uma reflexão e um convite a que a gente combata a nossa “configuração(...)
Um conceito positivo de post-truth
É inacreditável a quantidade de assuntos complexos que um meme pode apresentar com simplicidade e humor É possível usar o conceito de post-truth de modo não descritivo, usar o conceito para apresentar uma perspectiva, ao invés de descrever — como quem convenciona um padrão de medida. Nesse contexto, a post-truth significaria reconhecer que o real, o conjunto indeterminado do que existe (e também(...)
Amor e dever: formas de vínculo
Quando falamos em política, em geral somos constrangidos por um senso de dever. Uma dimensão moral e normativa guia nossas ações e pensamentos, e se não a escutamos nem agimos de acordo com as suas instruções sentimos culpa. O dever é forte em quem tem consciência, ele pode nos transformar em escravos da culpa. O dever é uma forma de vínculo, um compromisso que nos amarra uns aos outros. Mas há(...)
Linux: o mais importante projeto da humanidade
Tux, o famoso mascote do Linux Antigamente eu argumentava com qualquer pessoa que não admitisse a superioridade do Linux como sistema operacional (SO), tendo em conta todos os seus aspectos. Hoje em dia eu ainda discuto por isso, mas agora, saber o que uma pessoa acha do Linux equivale a estabelecer uma medida do que ela conhece de informática! Porque em 2023 o mundo é bem diferente do que era em(...)
Revolução, radicalidade e instabilidade
A única maneira de dispensar e de prescindir da energia das revoluções, do que elas têm de incontrolável e violento, sem abrir mão do que elas têm de rapidamente transformativo é admitindo uma dimensão de radicalidade em si mesmo, é entendendo o papel da destruição e da instabilidade — dentro e fora de si mesmo. Nietzsche sobre as revoluções: Uma ilusão na doutrina da subversão. — Há visionários(...)
Coisa de meter e de esfregar
O pau é uma coisa de meter e de esfregar, essa é sua função como instrumento. O caso é que, por melhor que seja o instrumento, as suas potencialidades estão condicionadas à habilidade do seu dono ao usá-lo. E acontece que muitos homens não gostam de mulheres, e isso influencia significativamente o modo como usam o pau. Há muitos homens que acham que as mulheres não são mais que um buraco onde(...)
Inteiro ou metade
Half or double: formas não individuais de unidade/identidade Cena da fabulosa série Dead Ringers (Amazon Prime) Quando a gente precisa de outra pessoa para se sentir inteiro, completo, pleno, alguém poderia dizer que por isso, sozinhos, nós somos incompletos, apenas metade, e que algo nos falta para a unidade — para sermos um. Será que alguém, algum dia, já chegou a ser um? A ser um consigo mesmo(...)
Beijos roubados
Uma cultura de respeito à mulher não implica que cada beijo tenha que vir antes precedido pela pergunta: “Posso te beijar? Por favor, manifeste o seu consentimento verbalmente” — isso é ridículo. Em certo sentido, grande parte dos beijos são beijos roubados, pois supõem uma aposta (e um risco) sobre o desejo do outro, aposta que, naturalmente, não está imune ao erro. Não se trata de(...)