Não deixa de ser bonita, cândida até, a atitude de Cynara. Ela alerta a direita, falando em nome da esquerda (vejam só), para o risco de alimentar o PMDB (Eduardo Cunha e que tais). É bonito: como quando se contempla a simplicidade (deliberada ou não) de uma visão de mundo, como a de uma criança — mas ao mesmo tempo é sintomático. Porque, bem, não foi a oposição, nem a direita, quem criou e...
Brasil: entre golpistas e irresponsáveis
A situação do Brasil é mesmo delicada. De um lado, a tentativa de organização de um movimento que, receio ter que concordar com os governistas mais empedernidos, ressente a golpismo. A despeito das exceções, o movimento reflete a infantilidade política de um país no qual as instituições são apenas fachadas que dão ares de legitimidade à vontade dos atores cujo poder determinam ou pretendem...
A sanha assassina da polícia baiana: a culpa é nossa!
Quando Eric Garner morreu assassinado por um policial que manteve o estrangulamento mesmo depois de ele ter dito: “eu não consigo respirar”, houve protestos nos EUA. Depois da decisão judicial de não indiciar o policial que o matou, a coisa ficou feia e os protestos ganharam uma dimensão extraordinária, mobilizando todo o país. Na Bahia, por outro lado, o assassinato de pessoas pela polícia é...
A ditadura do medo
Aqueles que hoje exigem incondicionalmente o voto em Dilma são os mesmos que antes pediam silêncio aos simpatizantes do PT sempre que estes expunham publicamente alguma crítica ao partido. O que parece pressuposto nessa interdição completa da crítica é um mecanismo interno de aperfeiçoamento que permita absorver e discutir tais críticas democraticamente. Como se a construção do partido — de suas...
Exercício de imaginação: o campo do possível num governo do PSDB
Não estou seguro de que já foi possível algum dia acreditar em pesquisas eleitorais, no entanto, esse ano elas indicam que a vitória será apertada, seja quem for o vencedor. Vamos supor que Aécio vencerá, apenas para exercitar um pouco a imaginação. Se isso acontecer, o campo do possível nos quatro anos vindouros, na minha opinião, será mapeado a partir de dois extremos que eu indico em seguida...
O mito do dado: o ideal e o possível
O mito do dado persiste em muitas outras área, além da epistemologia. Na política sua força ainda é incrível. Quando distinguem entre o ideal e possível, muitos não se dão conta de que a distinção já é uma operação política (e ideológica). Esquecer a dimensão construtiva dessa diferença produz não apenas o engessamento das possíveis ações políticas, mas também oferece a justificativa...
A falência do ensino fundamental, público e privado
Difícil encontrar quem discorde da afirmação de que a educação pública fundamental no Brasil está falida. Daí se segue a constatação de que a estrutura material das escolas em geral está sucateada, os professores desestimulados pelos baixos salários, os planos pedagógicos, ultrapassados, não fazem frente a uma realidade para a qual não foram preparados, entre outras coisas. Diante disso, pode-se...
Esquerda caviar e o W.O.
O sonho de todo competidor é vencer sem esforço, vencer por W.O. E é isso o que reflete a expressão esquerda caviar. Em nome de uma pretensa coerência, se denuncia o paradoxo de sustentar ideias de esquerda e, ao mesmo tempo, possuir ou ostentar bens materiais, bens de consumo, e qualquer produto que o capitalismo ofereça. Para as mentes brilhantes que empregam a expressão, a esquerda é (ou...
Simplificação, a estratégia de argumentação mais usada
Há tempos eu defendo a tese de que a simplificação é a estratégia argumentativa mais utilizada. E isso por uma razão simples: lidamos sempre com aquilo que entendemos! Mas se não entendemos suficientemente um tema, de maneira geral estamos inclinamos a dois modos de agir, (1) podemos buscar conhecê-lo mais, complexificando nossa visão, o que implica uma postura ativa frente à questão, (2) ou...
Capitalismo: urbanização e gentrificação
Em The enigma of capital, David Harvey analisa as variáveis comuns a muitas crises do capitalismo. O processo de urbanização é um dos fatores mais frequentemente ligados a elas, ora como remédio, ora como veneno. Já na Paris do século XIX a urbanização havia sido adotada como estratégia para absorver o excedente de capital, impulsionando a circulação necessária ao sistema e abrigando a força de...