Ontem pensei em deixar aqui registrado meu palpite pra eleição na Espanha. A votação será no domingo, dia 20. As pesquisas apontavam que o Partido Popular e o Ciudadanos juntos eram capazes de formar maioria. O PP aplicou a austeridade exemplarmente. Cortou tudo e em todos os lugares, mas não conseguiu tirar a Espanha de uma situação econômica delicada, apesar das melhoras recentes. As melhoras...
Intimidação, democracia e argumentação
Democracia exige pluralidade de ideias. Exige argumento, exige debate, mas exige sobretudo vontade — algo que, na sua melhor expressão, produz generosidade (como nos lembrava Nietzsche). Exige não apenas produção, mas também circulação de ideias. Portanto, nada mais danoso à democracia do que a intimidação. Aliás, esse é o sentido da ideia e da luta pela liberdade de expressão. Que ela tenha um...
Sejamos prudentes, tenhamos medo!
Não há espaço para discutir a responsabilidade dos EUA e da Europa nos atentados terroristas de ontem. Não é o momento, dizem. Ora, depois que se estabelece que não é o momento de se falar disso, todos que ousam desafiar a regra acabam mal vistos. São culpados, insensíveis ou o pior de todos — relativistas. (Não há palavra mais incompreendida no Ocidente). Mas dois podem jogar esse jogo. Sem...
Por que a indepedência catalã inspira medo?
Pensando sobre minha completa incapacidade e incompetência para avaliar o tema, consegui exprimir ao menos minha dificuldade conceitual em relação a toda a trama. A dificuldade dessa questão me parece apenas uma e pode ser formulada assim: quando é que a gente deve permitir que uma diferença sentida se transforme numa diferença, por assim dizer, institucional? Sempre? Quando devemos aceitar que a...
O trauma do Cría cuervos
Não deixa de ser bonita, cândida até, a atitude de Cynara. Ela alerta a direita, falando em nome da esquerda (vejam só), para o risco de alimentar o PMDB (Eduardo Cunha e que tais). É bonito: como quando se contempla a simplicidade (deliberada ou não) de uma visão de mundo, como a de uma criança — mas ao mesmo tempo é sintomático. Porque, bem, não foi a oposição, nem a direita, quem criou e...
Brasil: entre golpistas e irresponsáveis
A situação do Brasil é mesmo delicada. De um lado, a tentativa de organização de um movimento que, receio ter que concordar com os governistas mais empedernidos, ressente a golpismo. A despeito das exceções, o movimento reflete a infantilidade política de um país no qual as instituições são apenas fachadas que dão ares de legitimidade à vontade dos atores cujo poder determinam ou pretendem...
A sanha assassina da polícia baiana: a culpa é nossa!
Quando Eric Garner morreu assassinado por um policial que manteve o estrangulamento mesmo depois de ele ter dito: “eu não consigo respirar”, houve protestos nos EUA. Depois da decisão judicial de não indiciar o policial que o matou, a coisa ficou feia e os protestos ganharam uma dimensão extraordinária, mobilizando todo o país. Na Bahia, por outro lado, o assassinato de pessoas pela polícia é...
A ditadura do medo
Aqueles que hoje exigem incondicionalmente o voto em Dilma são os mesmos que antes pediam silêncio aos simpatizantes do PT sempre que estes expunham publicamente alguma crítica ao partido. O que parece pressuposto nessa interdição completa da crítica é um mecanismo interno de aperfeiçoamento que permita absorver e discutir tais críticas democraticamente. Como se a construção do partido — de suas...
Exercício de imaginação: o campo do possível num governo do PSDB
Não estou seguro de que já foi possível algum dia acreditar em pesquisas eleitorais, no entanto, esse ano elas indicam que a vitória será apertada, seja quem for o vencedor. Vamos supor que Aécio vencerá, apenas para exercitar um pouco a imaginação. Se isso acontecer, o campo do possível nos quatro anos vindouros, na minha opinião, será mapeado a partir de dois extremos que eu indico em seguida...
O mito do dado: o ideal e o possível
O mito do dado persiste em muitas outras área, além da epistemologia. Na política sua força ainda é incrível. Quando distinguem entre o ideal e possível, muitos não se dão conta de que a distinção já é uma operação política (e ideológica). Esquecer a dimensão construtiva dessa diferença produz não apenas o engessamento das possíveis ações políticas, mas também oferece a justificativa...